segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

SALVADOR DO MONTE: a primitiva igreja e um insólito acontecimento

Documento da maior importância para a história da freguesia de Salvador do Monte, a “Memória Paroquial”, redigida em 1758, dá-nos, entre outras coisas, preciosas informações sobre a história da sua igreja, a saber:

“Esta igreja (Salvador do Monte) estava nos seus princípios situada no outeiro mais alto que tem esta freguezia donde se mudou para o sítio donde hoje está. Longe das casa da residencia hum tiro de espingarda, mas tem pegadas humas casas que mandei fazer em que mora o cura. Foy mudada a igreja no anno de 1646 por ordem do senhor Bispo que entam era do Porto o Ill.mo D. Joam de Souza; apareceu no altar mayor uma conta de algarimo romano de que constava ser fundada a Igreja no dito monte no anno de ICXXII. Esta hoje a igreja para baxo do dito monte, mas em sitio agreste ...” (1)

Igreja de Salvador do Monte
Sobre o mesmo assunto, já em 1726, Craesbeeck nas suas “Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho” dizia-nos o seguinte: 
“a igreja de São Salvador do Monte he abbadia do Padroado Real. Não tem sacrário he seu abbade hoje o Padre Alexandre de Queiros e Sousa. Tem somente huma capella fillial, a saber: Nossa Senhora de Mozellos. Não tem mais cousa digna de memoria em razão de que esta igreja foi mudada do sitio do alto do monte de Nossa Senhora de Louredo, para perto da residencia dos abbades, que he um citio muito mais abaixo do dito monte; e na antigua ficaram as campas das sepulturas, que haviam, e não são poucas; e ahi mesmo se levantou hum cruseiro de pedra, pera memoria de que naquele citio estivera  antiguamente a igreja e fora naquelle lugar sagrado; e no lugar de Louredo está no caminho hum padrão das almas, todo pintado, com sua caixa para as esmollas, que deixão os passageiros.” (2)

Que a primeira igreja de Salvador do Monte se situava no alto do monte e que, em 1646, foi transladada para o local onde hoje se encontra, perto da residência dos abades, é o que se pode concluir dos relatos destes dois importantes documentos.

Também sobre a mesma igreja, o “Archivo Histórico de Portugal”, publicado em setembro de 1889, relata-nos um insólito acontecimento que passo a transcrever não tanto pela sua originalidade mas pela minúcia da descrição, a saber:

“Em 29 de Maio de 1745, uns sacrilegos entraram na igreja de S. Slvador do Monte, e arrombando a porta do sacrario, tiraram d’ella o ciborio de prata, que levaram, espalhando as sagradas particulas pelo altar e pelo chão, achando-se umas nos pires das galhetas, outras n’um vazo e uma debaixo da pedra d’are. Levaram tambem a ambula dos santos oleos, que era de estanho, derramando-os sobre as mesmas particulas. De uma imagem de nossa senhora tiraram a corôa e a quebraram com grande incedencia, depois de conhecerem que era de latão.

Chegou esta notícia à cidade do Porto e logo d’ali sahiu o vigário geral com alguns desembargadores do senado, a syndicar do caso. A 18 de junho mandou o bispo publicar uma pastoral, para que na sé d’aquella cidade se fizessem preces com o Sacramento exposto, na segunda feira, 25 do dito mez, nos dois dias seguintes, e nos de 22, 23 e 24, em todas as igrejas do Porto e seus suburbios, como tambem em todas do bispado, depois de lhes chegar a noticia da mesma pastoral.” (3)

Considerando a sua importância e significado, publicaremos, oportunamente, na íntegra, a “Memória Paroquial de Salvador do Monte”, no ano de 1758.

Miguel Moreira

(1)- https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4240829

(2)- Craesbeeck, Francisco Xavier da Serra, “Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho no ano de 1726”, Vol. II, pág. 69, Edições Carvalho de Basto L.da

(3)- https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/ArchivoHistorico/ISerie/ISerie_master/ArchivoHistoricodePortugal_SerieI.pdf

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