segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

AS FEIRAS DE OVELHINHA

Sabia que Ovelhinha já teve feira?
Sim, é verdade. Em Ovelhinha, segundo um documento de 1758, realizava-se uma feira franca anual nos dias 17 dos meses de Setembro, Novembro e Janeiro e outra, a 15 de Janeiro, dia de Santo Amaro. Mais tarde, esta feira passou a realizar-se mensalmente.


Largo e Capela de Santo Amaro de Ovelhinha (Gondar)

É isto que nos é relatado pelo Padre António Coelho Pedroza in “Memórias Paroquiais de Santa Maria de Gondar”, documento datado de 20 Março de 1758.
Reza, assim, o documento:
“Tem esta Freguesia três feiras no anno, aos dezassete de Novembro, de Setembro e Janeiro, que só consta de javalis mansos e algumas cousas comestíveis, e outra do mesmo no dia do senhor Santo Amaro, a quinze de Janeiro, e todas francas.”
Eram, pois, feiras francas, isto é, não se cobravam aos comerciantes quaisquer taxas ou impostos, e, como se refere no documento, destinavam-se à venda de “javalis mansos” (suínos) e algumas “cousas comestíveis”. O local da feira seria o recinto de Santo Amaro.
Ovelhinha era, à época, um dos lugares maiores da freguesia e, com bons acessos, gozava de uma localização central no contexto da freguesia. Para além disso, a capela de Santo Amaro complementava a Igreja do Mosteiro na vida litúrgica da paróquia.


Ovelhinha (Gondar - Amarante)

Lugar de Ovelhinha (Gondar)

A feira do Cavalinho, à data, ainda não tinha sido criada, caso contrário seria referida neste documento. Embora desconhecendo a data da sua fundação, sabemos que ela é posterior à construção da “estrada pombalina”, que liga Amarante a Mesão Frio, e a sua importância na região está associada a esta ligação rodoviária.
Sabemos também que, no reinado de D. Maria II (1834-53), a feira do Cavalinho, que se realizava a 12 de cada mês, correu o risco de ser transferida para a vila de Amarante, devido à realização da feira de Ovelhinha, a 17 de cada mês. Porém, a reação da população foi tal que fez com que fosse a feira de Ovelhinha a ser transferida para Amarante e, em compensação, a feira do Cavalinho passasse a realizar-se duas vezes por mês, a 12 e a 28.
Com esta transferência para Amarante, em meados do séc. XIX, a feira de Ovelhinha foi definitivamente extinta e a do Cavalinho, a 12 e 28 de cada mês, tornou-se numa das mais concorridas da região e manteve-se pujante quase até aos nossos dias.


Miguel Moreira (texto e fotografia)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

GONDAR NA ROTA DA REDE VIÁRIA 
DE E PARA TRÁS-OS-MONTES

Desde a Romanização, considerando os vestígios existentes, que Gondar é ponto fulcral nas ligações do litoral com o interior transmontano e o Douro vinhateiro.
Datando, provavelmente, do séc. III d.c., existem vestígios de uma via romana que, partindo da cidade romana de Tongobriga (a poucos Kms de Marco de Canavezes), fazia, por Amarante, a ligação ao santuário rupestre de Panóias (perto de Vila Real) e daí a Tresminas (Vila Pouca de Aguiar). É muito provável que esta via se juntasse a uma outra que, atravessando o Tâmega por uma ponte que antecedeu a de S. Gonçalo, partia de Bracara Augusta em direcção a Trás-os-Montes. Desta via restam, em Gondar, junto à ribeira de Marancinho, um pontão, um muro de suporte e pequenos troços.
Com algumas variantes, este itinerário manteve-se ao longo de toda a Idade Média.


Ponte de Larim (Gondar)

Já na Idade Moderna, uma outra estrada, mais larga e menos acidentada, é construída, seguindo o leito dos rios Ovelha e Marão, em direcção a Vila Real. Atravessando Gondar pelo seu meio, transpõe o rio Ovelha em Larim, através de uma ponte cuja construção data de 1630, mais tarde alargada, em 1867, para a transformar em “estrada real”. Trata-se da EN15.


Estrada Pombalina (Gondar - Amarante)

Em meados do séc. XVIII, o Marquês de Pombal, com o objetivo de criar uma alternativa rodoviária à via fluvial (rio Douro) para os negócios dos vinhos do Porto, mandou construir uma nova estrada para ligar Régua e Mesão Frio ao Porto. Esta, a partir de Mesão Frio subia ao alto dos Padrões para depois seguir o rio Carneiro até Amarante e daí para o Porto. Ficou conhecida como “estrada pombalina”. Estreita e muito acidentada, foi pavimentada por um método revolucionário para a época, conhecido por “macadame”. Foi devido à construção desta estrada que a feira do Cavalinho, em Gondar, se criou e se desenvolveu, atraindo muitos feirantes de Mesão Frio, Baião e, até, de além-Douro. Também, para apoio aos viajantes, surgiram, em Gondar, algumas estalagens, nomeadamente no Cavalinho, Boavista e Bailadouro.
Nos finais do século passado, devido ao aumento do tráfego rodoviário, foi necessário construir uma nova estrada, mais larga e mais rápida, para ligar Amarante a Vila Real. Surgiu o IP4, com duas vias no sentido ascendente e uma no sentido descendente.


A4 (Gondar - Amarante)
A4 (Gondar - Amarante)
A4 em Gondar - Amarante

Porém, o elevado número de acidentes neste itinerário principal, devido ao traçado da via e às péssimas condições meteorológicas na serra do Marão, levaram os governantes a pensar uma nova alternativa, optando por uma autoestrada, na continuação da A4, que “furou” o Marão numa extensão de cerca de 6 Km. Surgiu assim uma nova travessia mais segura, mais cómoda e mais rápida, inaugurada em Maio de 2016.
Com esta autoestrada, com nó nas imediações, Gondar viu reforçada a sua localização estratégica, já que todas estas estradas atravessam a freguesia de lés-a-lés e pode dizer-se que é, em grande parte, a elas que Gondar deve o seu crescimento e desenvolvimento.

Miguel Moreira (texto e fotografia)