segunda-feira, 29 de julho de 2019


GEMINAÇÃO LANGEAIS - GONDAR

20.º aniversário

A iniciativa de uma geminação entre Langeais e Gondar partiu de Danièlle Leite-Simonin, filha de Augusto Leite, um emigrante português, natural de Gondar,  que chegou a Langeais em 1930. Querendo honrar a figura e as origens de seu pai, e tendo em conta o elevado número de gondarenses radicados em Langeais, Danielle estabeleceu os primeiros contactos com os representantes autárquicos de Gondar em 1998. No ano seguinte, a 15 de Maio de 1999, uma delegação de Gondar que incluía, entre outros, o presidente da JFG, António Teixeira, Manuel Dias Teixeira e Alberto Rocha, partia para Langeais a fim de formalizar a geminação. É do ato que a oficializou que publicamos as fotografias seguintes, gentilmente cedidas pelo sr. Alberto Rocha.
Recorde-se que, neste ano de 2019, celebramos o 20.º aniversário da geminação e que, para esse efeito, uma delegação de gondarenses se deslocará a Langeais, nos dias 31 de agosto e 1 de setembro, a fim de participar nas comemorações.


Geminação Langeais-Gondar
Geminação Langeais-Gondar
Geminação Langeais-Gondar
Geminação Langeais-Gondar



Geminação Langeais-Gondar

Miguel Moreira (texto)
Alberto Rocha (fotografias)

quarta-feira, 24 de julho de 2019

O Trigo de Ovelhinha

O “PÃO DE OVELHINHA”


Hoje mais conhecido como “pão de Padronelo”, o “pão de Ovelhinha” teve a sua origem no lugar que lhe dá o nome, Ovelhinha, na freguesia de Gondar. Situado nas margens do rio Fornelo e muito próximo do Ovelha, este lugar, bem como toda a freguesia, dispunha de muitos moinhos que forneciam as farinhas necessárias para a confecção do tão afamado pão.



Rio Carneiro em Ovelhinha - Gondar

Embora sem documentos escritos que o comprovem, foi em Ovelhinha, segundo a tradição popular, que surgiu a primeira padaria de pão de quatro cantos. Só, após 1809, com a destruição de grande parte do lugar, causada pela II Invasão Francesa, as padarias e os padeiros tiveram de se deslocar para outros lugares e será a partir daqui que Padronelo surge ligado à confecção do pão de cantos. Por outro lado, a construção das estradas que ligavam Amarante à Régua (estrada pombalina) e Amarante a Vila Real (N 15) teria levado a que os padeiros se deslocassem para junto destas estradas para melhor venderem o seu pão. Neste contexto, Padronelo, na encruzilhada destas duas estradas, tinha uma localização privilegiada. 
Em Gondar, é no lugar de Chedas que, desde há muitos anos, se concentra o maior número de padarias deste pão.

Pão de Ovelhinha ou Pão de Padronelo

De cor amarelo-torrado e com uma consistência firme e suave, é um pão de mistura de centeio e trigo, com um peso médio de 150 g. Com quatro cantos e estrangulamento central, aparentando a forma de quatro losangos unidos, é, face ao seu formato, também conhecido como “pão da concórdia”. 
Até há bem pouco tempo, este  pão era fabricado segundo métodos tradicionais e cozido em fornos de lenha aquecidos a carqueja, muito abundante na serra do Marão.

Padeiro retira o trigo do forno depois de cozido

A farinha, outrora moída em moinhos tradicionais, era depois peneirada e amassada com água, sal e fermento. Depois de levedada, volta a ser amassada à mão, altura em que se lhe dá o formato característico: um quadrilátero que é estrangulado segundo as medianas, ficando com o aspecto de losangos grosseiros, mais largos na zona de ligação e bicudos nas extremidades. A massa do pão é depois «couçada», isto é, o pão é “aconchegado” em lençóis de linho para que não perca a forma, e coberta com cobertores para ajudar na levedura. Finalmente, o pão é cozido durante cerca de meia hora.
  Com várias designações – pão de Ovelhinha, pão de Padronelo, trigo de cantos, ou simplesmente trigo – este pão, para além de acompanhar as refeições, tem tido várias utilizações culinárias, como em açordas, rabanadas, enchidos, formigos e até, mais recentemente, francesinhas. Em Paços de Ferreira, pelo Carnaval, cozinha-se a “Sopa seca”: uma sobremesa elaborada com a água do Cozido à Portuguesa e pão de Ovelhinha (1).
  Outrora consumido quase exclusivamente na região de Amarante, onde era vendido porta-a-porta por padeiras com grandes açafates à cabeça, o pão de cantos é hoje conhecido em quase todo o distrito, existindo casas no Porto que o recebem e comercializam diariamente.
(1)- Sopa seca: https://www.cm-pacosdeferreira.pt/index.php/sopa-seca
https://museururaldomarao.wordpress.com/coleccoes/pao/

Miguel Moreira

domingo, 21 de julho de 2019

Capela de São João Crisóstomo

CAPELA DE SÃO JOÃO CRISÓSTOMO

(VILELA – GONDAR)


Em 1758, a “Memória Paroquial de Gondar”, num relatório assinado pelo P.e António Coelho Pedroza, referia que "no lugar de Vilella há duas capellas, huma, a mais antiga, seu orago Sam João Baptista de que hé administradora Brizida Preira veuva e seus filhos o licenciado Manuel Brochado e o padre frei Joam de Sam Joam Baptista religiozo da Observância do Seraphico Sam Francisco na província da Índia. A outra de Sam João Crisóstimo que há poucos annos mandou eregir o Padre João Pereira Sobrinho.” (1)
Todos os gondarenses sabem da existência da capela de São João Batista, da casa da Barroca, a que já nos referimos, mais que uma vez, neste blogue. Porém, creio que poucos saberão que existiu, no mesmo lugar de Vilela, outra capela, cujo orago era São João Crisóstomo.

Vilela - Localização da Capela de S. João Crisóstomo
Datada de 31/05/1752, uma provisão da Mitra Arquiepiscopal de Braga, que se conserva no Arquivo Distrital de Braga, concedeu uma “licença para a feitura de capela com a invocacao de Sao Joao Crisostomo, novamente erigida, a favor do Padre Joao Pereira Sobrinho, da freguesia de Santa Maria de Gondar, comarca de Vila Real”.(2) Este importante documento para além de referir o seu patrono, São João Crisóstomo, refere também a pessoa que a mandou erigir, o Padre João Pereira Sobrinho. No documento diz-se, ainda, que a capela foi “novamente erigida”, o que pressupõe ter existido outra anterior a esta. De qualquer forma, esta nova capela, mandada erigir pelo P.e João Pereira Sobrinho, foi construída entre os anos de 1752, data da provisão da Mitra, e 1758, data da “Memória Paroquial”, que a dá como já existente.
A capela faria parte da Casa do Covêlo, uma habitação e quinta de dimensões consideráveis, que lhe fica mesmo em frente, do outro lado do caminho público.
Nasci muito próximo desta capela e, nos anos 50 do século passado, esta já não estava ao serviço do culto. Era um espaço para arrecadação de produtos e alfaias agrícolas. Lamentável é que, mais tarde, sobre as paredes da capela tenham construído um palheiro que desfigurou, por completo, este exemplar da memória e do património dos Gondarenses.


São João Crisóstomo
Nasceu em Antioquia, cerca do ano 349. Depois de ter recebido uma excelente educação, dedicou-se à vida ascética; e, tendo sido ordenado sacerdote, consagrou-se, com grande fruto, ao ministério da pregação. Eleito bispo de Constantinopla no ano 397, revelou grande zelo e competência nesse cargo pastoral, atendendo em particular à reforma dos costumes, tanto do clero como dos fiéis. A oposição da corte imperial e de outros inimigos pessoais levou-o por duas vezes ao exílio. Perseguido por tantas tribulações, morreu em Comana (Ponto, Ásia Menor) no dia 14 de Setembro do ano 407. A sua notável diligência e competência na arte de falar e escrever, para expor a doutrina católica e formar os fiéis na vida cristã, mereceu lhe o apelativo de Crisóstomo, «boca de ouro».

(1)- P.e António Coelho Pedroza in “Memórias Paroquiais de Gondar”, 1758.


Miguel Moreira

quarta-feira, 10 de julho de 2019

O Carro de Bois Amarantino

O CARRO DE BOIS AMARANTINO (II)


Com caraterísticas únicas, o carro de bois amarantino foi objeto de estudo pelo etnógrafo Armando de Mattos que, em 1940, publicou um excelente trabalho – “O Carro de Bois Amarantino”, da Junta de Província do Douro Litoral, Porto, 1940 – a que já fizemos referência em publicação deste blogue.

Por ser também, durante séculos, o modelo de carro utilizado em Gondar, divulgamos, hoje, um conjunto de fotografias do exímio mestre da fotografia Eduardo Teixeira Pinto que, de forma soberba, soube retratar o quotidiano amarantino, nomeadamente os carros de bois.


Carro de bois amarantino - Eduardo Teixeira Pinto

Sob o olhar dos reis - Eduardo Teixeira Pinto

Velhos Transportes - Eduardo Teixeira Pinto

Eduardo Teixeira Pinto

Bois amarantinos - Eduardo Teixeira Pinto

Logo pela manhã - Eduardo Teixeira Pinto

Carro de bois amarantino - Eduardo Teixeira Pinto

Bois - Eduardo Teixeira Pinto

Carro de bois - Eduardo Teixeira Pinto

Carro de bois amarantino

Fotografias de Eduardo Teixeira Pinto

Uma pesquisa Miguel Moreira para "Sentir Gondar".

quarta-feira, 3 de julho de 2019


PADRONELO NO "ARCHIVO HISTORICO DE PORTUGAL" (1890)


Em Setembro de 1889 iniciava-se a publicação do “Archivo Historico” - Narrativa da fundação das cidades e villas do Reino, seus brazões d’armas, etc, obra que, segundo os seus promotores, seria “útil a todos os cidadãos que desejem avaliar as glórias do payz e apreciar as causas do seu engrandecimento e decadência; que por ella ficam sabendo desde quando existe cada concelho, as tradições que os acompanham, as origens dos nominativos que as distinguem, e outros factos curiosos e interessantes, como batalhas dadas nessas localidades, monumentos, etc.”
Com destaque para Dona Loba Mendes e para a fábrica de Lanifícios Garcia Ribeiro & C.ª, a freguesia de Padronelo mereceu nessa obra um honroso lugar.
É, precisamente, a parte do documento respeitante a Padronelo, publicado em Janeiro de 1890, no n.º 25, 1.ª Série do “Archivo Histórico, que, hoje, vamos transcrever para os nossos leitores:

“Padornêllo” ou “Pedornêllo” – É povoação rica, fertil e bonita, situada nas margens do rio Mendo, e que em grande parte deve a sua prosperidade à excellente fáfrica de lanifícios, ali fundada em 1860, e que hoje é uma das principaes d’este género em Portugal.

Fábrica de Lanificios de Padronelo - Amarante (cerca de 1910 - 1920)

Existe ali uma torre, a qual, segundo consta, foi residencia de D. Loba Mendes, filha de Mem de Gondar, e mulher de Diogo Bravo, de Riba-Minho. Esta senhora era muito rica e carinhosa, e deixou certas rendas e propriedades ao convento de S. Gonçalo de Amarante, com a obrigação de darem os frades em todos os dias do anno esmolas a todos os pobres que se apresentassem à portaria. Este legado cumpriu-se religiosamente até 1834.
Padornêllo era uma pobre aldeia, cujos habitantes apenas viviam da agricultura e de crearem algum gado. 
Fábrica de Lanifícios Garcia Ribeiro & C.ª - Padronelo (cerca de 1860)

Existiam quasi ignorados quando veio a fundação da fábrica, que principiou a girar sob a firma Garcia Ribeiro & C.ª, conseguindo-se que esta povoação fosse conhecida em todo o reino como uma das principais terras industriaes, em ponto pequeno.
Em 1874, próximo de Padornêllo, cahiu tão enorme porção de chuva que as aguas cavaram a estrada, em alguns sitios, até à profundidade de 20 metros. Foi tão violenta a tempestade, que arrastou para a estrada tão grandes penedos, que, mesmo depois de quebrados a fogo, houve grande difficuldade em remove-los. Suppõe-se ter sido uma tromba marinha que ali foi rebentar.”

In “Archivo Historico de Portugal”. Pág. 101 e 102.
Miguel Moreira

segunda-feira, 1 de julho de 2019

António Fernandes da Fonseca


Doutor António Fernandes da Fonseca

médico e professor universitário
(1921-2014)

António Fernandes da Fonseca, filho de Manuel Ribeiro da Fonseca e de Rosa Fernandes,  nasceu na freguesia de Gondar, concelho de Amarante, a 4 de agosto de 1921.

Casa dos pais de A. Fernandes da Fonseca (Gondar - Amarante)

Frequentou a escola primária de Ovelhinha, onde concluiu a 4ª classe. Continuou os estudos no Colégio de S. Gonçalo, indo, no 7.º ano, estudar para o Liceu Rodrigues de Freitas, no Porto.
Findo o ensino secundário, cursou Medicina, tendo-se licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto com a classificação final de 16 valores.
É, entretanto, convidado pela Faculdade de Medicina a ocupar o lugar de Assistente, cargo que aceita com a condição de lhe ser concedida uma bolsa de estudos no estrangeiro. Em 1955 parte para Londres para estagiar nos Serviços de Psiquiatria e Psicologia do Hospital de St. Thomas e de Genética Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres. De regresso a Portugal, é-lhe concedido o grau de Doutor em Medicina, pela Universidade do Porto, tendo ficado a seu cargo a regência da cadeira de Psiquiatria.

Doutor António Fernandes da Fonseca
No decorrer da vida profissional, Fernandes da Fonseca desempenhou vários cargos. Foi Diretor Clínico do Hospital Conde Ferreira, durante 12 anos, e fundou o Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de São João; Presidiu à Sociedade Portuguesa de Psiquiatria, da Associação Psiquiátrica de Língua Portuguesa e à Associação Europeia de Psiquiatria Social; foi membro da Real Academia de Medicina de Madrid e "Fellow" da Academia de Medicina e Psiquiatria de Nova Iorque; dirigiu a Revista de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do Porto e foi autor de mais de 200 trabalhos e de cerca de uma dezena de livros sobre temas de Psiquiatria, Psicologia, Sociologia e Saúde Mental, bem como de um tratado de Psiquiatria e Psicopatologia, o único em português.
Jubilado em 1991, passou, então, a desempenhar a função de diretor do Departamento de Pós-Graduações, Mestrados e Doutoramentos da Universidade Fernando Pessoa.
Antes, em 1970, no rescaldo do maio de 68, publicou “A reforma da Universidade”, que lhe valeu uma sanção do regime de então, que o impediu de realizar provas de agregação durante vários anos.
Em 1976, já Professor Catedrático, foi eleito, em lista do Partido Socialista, deputado à Assembleia da República pelo círculo do Porto. Enquanto esteve no Parlamento escreveu “Psiquiatria e Psicopatologia”, a mais significativa das suas publicações científicas, que juntou a, entre outras, "Sintomas iniciais da esquizofrenia" (1958); "A farmacoterapia em psiquiatria" (1961) "Curvas glicémias na esquizofrenia" (1963) ou “Saúde Mental e Humanização” (1995).
Apaixonado pela terra onde nasceu, cujo Município lhe atribuiu a Medalha de Ouro em 1995, Fernandes da Fonseca é também um admirador confesso e estudioso de Teixeira de Pascoaes, sobre quem escreveu “O Encontro com Teixeira de Pascoaes” (2002), incluindo também o poeta da saudade no seu livro “Psicologia da Criatividade: à luz biográfica de quatro génios” (2003). Os outros três são Fernando Pessoa, Sigmund Freud e Ortega y Gasset.
O Professor Doutor António Fernandes da Fonseca faleceu no dia 16 de Dezembro de 2014.

Fontes: https://www.cm-amarante.pt/pt/antonio-fernandes-da-fonseca

e
https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=antigos%20estudantes%20ilustres%20-%20ant%c3%b3nio%20fernandes%20da%20fonseca
Miguel Moreira