quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Capela de S. Tiago - Lufrei Amarante

 

A relevância que as peregrinações a Santiago de Compostela assumiram no contexto europeu e, de modo especial, na Península Ibérica, fez com que ao longo dos “caminhos” surgissem inúmeras igrejas e capelas dedicadas ao culto a S. Tiago.

S. Tiago - Lufrei, Amarante
Amarante que, na época romana, terá sido atravessada por uma via que, partindo de Bracara Augusta, seguia para Trás-os-Montes através do Marão, conservou e aprofundou esta sua vocação viária a que não foi alheia a construção/reconstrução da ponte sobre o Tâmega sob os auspícios de S. Gonçalo. Paulatinamente, Amarante ganhava importância no contexto regional, importância que foi consolidada com a construção da Igreja e Mosteiro de S. Gonçalo, no século XVI, e as peregrinações ao santo, oriundas de vários pontos do norte do país.

Dito isto, não é de estranhar que Amarante surja como ponto de passagem quase obrigatória dos peregrinos que, oriundos do Alto Douro e das Beiras, se dirigiam a Santiago de Compostela. Aliás, as peregrinações a S. Gonçalo e a Santiago têem muito de comum. Neste contexto, a existência, em Amarante, de duas Albergarias, construídas no séc. XII, uma na margem direita (rua da Ordem?) e outra na margem esquerda do rio (Albergaria do Covêlo), indiciam o crescente aumento de peregrinos e a necessidade de lhes conceder o devido apoio.

Voltando ao tema desta publicação, a existência em Lufrei de uma pequena capela dedicada a S. Tiago insere-se no âmbito do desenvolvimento do culto ao santo do mesmo nome. Recorde-se que a “estrada” que ligava Amarante a Trás-os-Montes passava por este lugar, a caminho do Marancinho e Ovelha do Marão. A capela de S. Tiago, existente na Igreja de S. Gonçalo de Amarante, insere-se, igualmente, neste contexto.

Quanto à capela de S. Tiago, em Lufrei, ela não vem referida nas Memórias Paroquiais, de 1758, mas Francisco Xavier da Serra Craesbeeck, em “Memórias Ressuscitadas de Entre Douro e Minho”, 1726, refere o seguinte: “Tem esta igreja (Lufrei) 4 capellas filliaes, a saber: São Salvador do Monte...; São Miguel o Anjo ...; Nossa Senhora dos Praseres...; São Tiago, no lugar deste Sancto: capellinha pequena, que desce por escadas para baixo” (1). Esta é, aliás, uma das poucas referências escritas sobre o assunto. Da capela não restam quaisquer vestígios a não ser a imagem do santo que se conserva na atual Igreja Paroquial. No local, entretanto, foram construídas umas “alminhas”, datadas de 1842.

(1)- Craesbeeck, Francisco Xavier da Serra, “Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho”, vol. II, pág. 59.

Miguel Moreira