quarta-feira, 26 de junho de 2019

Caminho Torres de Santiago


GONDAR NA ROTA DOS CAMINHOS DE

SANTIAGO


Não passa despercebida a sinalética que, instalada recentemente, colocou Gondar na rota dos caminhos portugueses de Santiago de Compostela.
Numa iniciativa da Câmara Municipal de Amarante, a sinalização deste traçado pretende reanimar um antigo caminho, conhecido por “Caminho Torres”, que tem início em Salamanca e que, depois de entrar em Portugal por Almeida, passa por Amarante e prossegue, por Braga, em direcção a Ponte de Lima, onde entronca no Caminho Central Português de Santiago.

Caminho de Santiago em Larim - Gondar

No troço que atravessa Gondar, o itinerário, depois de entrar na freguesia pelo lugar de Bailadouro, prossegue pela antiga estrada pombalina, atravessando os lugares de Cabana, Real, Ovelhinha e Larim, em direcção a Padronelo e Amarante.

Mapa do Camino Torres
Todavia, este não terá sido o percurso original, já que, à data em que Diego de Torres Villarroel  iniciou este "caminho" (1737), a estrada pombalina ainda não tinha sido construída. A estrada de Amarante para Mesão Frio seguia por Bustelo em direcção a Carneiro e Padrões da Teixeira e, pela Teixeira, chegava a Mesão Frio. 
A "Memória Paroquial de Gondar", em 1758, já referia o elevado número de viajantes que, a pé ou a cavalo, transitavam por esta estrada que atravessava Gondar, muitos deles peregrinos de São Gonçalo ou de Santiago: “por esta freguesia (Gondar) passa uma estrada do nascente ao poente, tão povoada de passageiros pedestres e equestres que com eles se comunicam não só o nosso Reino, mas também toda a Castela Velha e nessa com todas as suas Províncias, Reinos e cidades, mas também a França, a Itália, a Palestina ou Roma” .
Com a abertura da estrada pombalina, o caminho passou a fazer-se por esta estrada que, para além de encurtar o percurso e possuir melhor piso, era servida por algumas estalagens e albergues de apoio a viajantes e peregrinos.
O tramo do Caminho de Santiago em Amarante tem cerca de 28 quilómetros e resulta de um longo processo de investigação e de averiguação dos locais percorridos e frequentados pelos peregrinos ao longo dos tempos. Do percurso merecem destaque alguns locais e monumentos, designadamente a estrada pombalina e a estalagem em Carneiro, a aldeia de Ovelhinha, em Gondar,  a ponte e a igreja de São Gonçalo, com um altar dedicado a S. Tiago, e o Mosteiro de Telões.
Na cidade de Amarante, o traçado está indicado com sinalética vertical e horizontal (no piso) e o percurso é, em alguns troços, distinto para peregrinos que se desloquem a pé e para peregrinos que se desloquem de bicicleta ou a cavalo.

Para saber mais sobre o Caminho Torres consulte:

http://caminosantiago.usal.es/torres/
Miguel Moreira

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Ovelhinha e a II Invasão Francesa


GONDAR E A II INVASÃO FRANCESA (1809)


Ao completarem-se duzentos e dez anos sobre a vil destruição que as tropas francesas infligiram sobre as populações de Gondar, nomeadamente de Ovelhinha e Real, achei oportuno publicar um excerto da obra “ Viagem Sentimental à Província do Minho”, de Frei Tomás de Santa Teresa, escrita em agosto / setembro de 1809, poucos meses após a ocorrência dos factos.
 
Ruínas da II Invasão Francesa em Ovelhinha - Gondar
“O texto que agora se publica teve a primeira edição em 1809, ou seja, poucos meses após os acontecimentos a que se refere. Eram, por isso, ainda muito frescas as cicatrizes deixadas pela ocupação do exército napoleónico em muitas terras do norte do país. Este relato é o resultado de uma visita que o autor fez a várias localidades onde pôde testemunhar a destruição e o sofrimento espalhados por todo o lado. “ (excerto da Nota Explicativa à reedição fac-similada da obra)

CAPITULO III
Estragos das Povoações de Santa Maria de Gondar, 
Ovelha, Ovelhinha, Gateães, Real e Padornello

“Quando passei pela Freguezia de Santa Maria de Gondar, que chorava ainda a tyranna morte de trinta e cinco dos seus Habitantes, occoreo-me a passagem de Virgilio:
... Luctus, ubique pavor, et plurima mortis imago.
Ovelhinha foi toda reduzida a cinzas. Real foi tratada semelhantemente. Encheria grossos volumes quem pretendesse esmiuçar os damnos causados à População, e à indústria das citadas Freguezias.
Já próximo da Villa de Amarante eu notei que se augmentava descompassadamente o pezo dos meus funestos presentimentos. A certeza dos estragos, que padecêra aquella desditosa, mas fidelissima Povoação, era mais que de sobejo para os inspirar, e entreter. Notei igualmente que a imaginação do que eu em breve presenciaria, me causava maior susto, e pavor, do que todas as desgraças, que até então eu resgistara com os meus propriosn olhos. Não tardou muito que, justificada esta minha aprehensão, eu taxasse de pouca força aquelles mesmos presentimentos, que me parecião tão vivos, e exaggerados. (...)

Vila de Amarante
Paço dos Condes do Redondo - Amarante (à direita na imagem)

Entrando immediatamente no Covello, que he menos hum Arrabalde, do que huma parte daquella Villa... eu vi...oxalá que eu podesse agora contar o que vi, e senti nesta occasião!!! Vi consumida pelo fogo huma rua inteira, que he quasi o total desta Povoação.
Algumas casas, que ficavão para os lados não forão isentas do fogo. A destruição foi geral. Dos seus malfadados Habitantes, huns se occupavão no desentulho das suas casas, outros lhe cobrião os tectos de colmo, outros mais querião ficar expostos à inclemência dos tempos, do que sujeitarem-se ao risco de serem esmagados por aquellas paredes alluidas, e mal seguras; e todos, em fim, cortarião o coração menos sensível, e menos affeito a chorar os males do seu proximo.” (1)

Nota: O texto é uma transcrição fiel do original, sem qualquer adaptação à grafia atual.


(1)- Frei Tomás de Santa Teresa, Viagem Sentimental à Província do Minho em Agosto e Setembro de 1809, edição Fac-similada do Grupo dos Amigos da BMMA, pp. 10, 11 e 12.