quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Ponte do Rio / Outeirinho

 “Em 1874, próximo de Padornêllo, cahiu tão enorme porção de chuva que as águas cavaram a estrada, em alguns sítios, até à profundidade de 20 metros. Foi tão violenta a tempestade, que arrastou para a estrada tão grandes penedos, que, mesmo depois de quebrados a fogo, houve grande dificuldade em removê-los. Supõe-se ter sido uma tromba marinha que foi ali rebentar”. (1)

É desta forma que o “Archivo Historico – Narrativa da Fundação das Cidades e Villas do Reino...”, publicado em Setembro de 1889, descreve a tromba d’água que se abateu sobre toda a bacia do rio Carneiro, desde o Alto dos Padrões até Padornelo, no ano de 1874. De notar que entre o fenómeno meteorológico descrito (1874) e o ano da publicação (1889) medeiam apenas 15 anos, o que confere à descrição um grau elevado de veracidade.

Ponte do Rio / Outeirinho (Gondar)

Também um manuscrito do século XIX, existente na Casa das Figueiras, em Vilela, escrito pelo seu proprietário, à época, e publicado por “Gondar com Memória”, descreve, de forma bastante pormenorizada, a devastação provocada por uma grande tempestade, da seguinte forma: 
Manuscrito das Figueiras (Vilela)
(Créditos "Gondar com Memória)
“no dia 13 de dezembro de noute e minhecendo para o dia 14 hua grande tempesttade donde veiu hum denúvio de agoa levou hua ponte de pedra q avia no Riu p.ra passar p.ra o Outeirinho e Crugeiras e tambem todos os moinhos e pisões que avia da ponte que avia o fundo de Carneiro enthé à ponte d’Aliviada Só ficou 1 o pe da ponte do Riu e outro na ovelhinha q. he de M.el Ant.º de Andrade. 
Os açudes dos moinhos e campos não ficou nenhua..., e campos não deixou nenhum q. não arruinasse”, lê-se no documento.

Tudo leva a crer que o fenómeno descrito no “Archivo Histórico” é o mesmo que é relatado no manuscrito das Figueiras. Não seria muito plausível terem acontecido dois fenómenos semelhantes em curto espaço de tempo. Assim sendo, estamos perante dois documentos de grande importância para a História da ponte do Rio / Corujeiras.

Concluindo: em 1874 já havia uma ponte de pedra a ligar o lugar do Rio ao Outeirinho e Corujeiras; esta ponte foi completamente destruída pelas águas da enxurrada provocada pela tromba de água, "como se fosse um dilúvio" (lê-se no manuscrito); para a substituir construíu-se uma nova ponte em cantaria de granito que, embora modificada, ainda existe no local.

Ponte do Rio / Outeirinho (atual)

Traspondo o rio Carneiro, no lugar do Rio, a ponte liga a estrada M576, a partir de Vila Seca, à estrada N101, no lugar do Escondidinho. É constituída por um só arco, de volta perfeita, e originalmente era ladeada por uma graciosa balaustrada em granito (como se pode ver na imagem 1) de que foi espoliada, nos anos 80, e substituída por um corrimão metálico a fim de possibilitar a passagem de veículos automóveis. A meu ver, bem mais bonita na sua forma original.
Miguel Moreira

 (1)- in “Archivo Historico – Narrativa da Fundação das Cidades e Villas do Reino...”, 1.ª Série, N.º I, de Setembro de 1889, pág. 102.

https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/ArchivoHistorico/ISerie/ISerie_master/ArchivoHistoricodePortugal_SerieI.pdf

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