quinta-feira, 9 de abril de 2020

Vila Seca - Gondar


ALDEIA DE VILA SECA

um pouco da sua história

As origens de Vila Seca remontam, no mínimo, ao período da romanização. A prová-lo estão as descobertas, neste lugar, em 1904, de cerâmica comum romana, designadamente, um jarro, um potinho, um pote e um prato, em depósito no Museu Nacional de Arqueologia. Também em Tubirei, uma localidade muito próxima de Vila Seca, foram descobertos vestígios do que se julga ter sido uma necrópole romana. Pode, até, tratar-se de um castro romanizado. Aqui foram encontradas, em meados do século XX, bilhas, jarros, pratos, mós de moinhos manuais, pregos, um colar de ferro e castanhas. Material depositado no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso (1).
Também sabemos que muito próximo do local passava uma via romana que, bifurcando-se da via de Marancinho, seguia por Vilela, Vila Seca e Corvachã em direcção às minas romanas do Teixo.
Considerando o que acabamos de dizer, há mesmo quem ponha a hipótese de Vila Seca, aproveitando as condições do vale drenado pelo rio Fornelo, ter sido um vicus ou até uma villa romana (2).

Vila Seca, Gondar - Amarante
Escrever sobre Vila Seca sem referir a sua maior referência - a olaria – seria algo impensável. Não fosse essa a razão do nome pelo qual foi conhecida a aldeia durante largos anos – lugar de Paneleiros!
Manuel Teixeira (oleiro)
Com origens que remontam ao século XVII – a arte terá sido introduzida em Gondar por migrantes oriundos de terras distantes como São Martinho de Paus, na altura freguesia de São Martinho de Mouros. A partir de então, o trabalho do barro tornou-se a principal ocupação e meio de sustento das famílias do lugar até meados do século XX. Contudo, a dureza da profissão e os parcos rendimentos que dela advinham fizeram com que, paulatinamente, a actividade da olaria fosse abandonada. Em 1945 ainda se registavam 18 rodas a funcionar em Vila Seca, Rio e Corujeiras. Em 1962 já só restavam 4 oficinas e 6 oleiros a trabalhar. Em 1991 já só trabalhava um oleiro em Vila Seca, Manuel Teixeira. Atualmente, em Gondar apenas existe um oleiro a trabalhar e de forma esporádica, César Teixeira (3). Todavia, recentemente, tendo-se candidatado ao concurso das “7 Maravilhas da Cultura Popular”, o Barro Negro de Gondar recebeu, pelo Conselho Científico, o selo de nomeado na categoria de Artesanato, em concurso a realizar ainda este ano de 2020. Bravo, Gondar!
 Unidos na defesa da sua aldeia e unidos, tantas vezes, pelos casamentos entre famílias de oleiros, estes homens e mulheres também souberam estar unidos na luta contra as investidas que, em 1809, as tropas do exército napoleónico faziam contra as populações, durante a II Invasão Francesa. Os “Paneleiros”, como eram designados, são por diversas vezes elogiados pela sua bravura e valentia. Um autor da época refere-se-lhes como os “esforçados Paneleiros” quando em Mesão Frio se apoderaram de “quatro caixões de pinho, dous baús de couro e duas malas”, pertences do general  Loison (4).

Capela de Nossa Senhora das Dores - Vila Seca
A ligação de Vila Seca aos “Pascoaes” é outro tema que importa considerar. Um irmão do poeta Teixeira de Pascoaes, Álvaro Pereira Teixeira de Vasconcelos, herdou a Casa do Encontro e fez dela a sua residência. Pouca importância isso teria, não tivesse ele enriquecido a sua capela, de Nossa Senhora das Dores; descoberto e divulgado todo o espólio da necrópole de Tubirei; e, não menos importante, mandado construir um engenho de azeite, a “menina dos seus olhos” que ele próprio dirigia. Não esqueçamos que o lugar era um dos principais produtores de azeite da freguesia.

Museu Rural do Marão - Vila Seca (Gondar)
Já que se fala do engenho, é nas suas instalações que está instalado o “Museu Rural do Marão”. Inaugurado a 21 de Fevereiro de 2009, o museu, fiel às origens do edifício, manteve todo o equipamento relacionado com o engenho e reuniu um vasto espólio que inclui todo o tipo de alfaias agrícolas, móveis e utensílios domésticos, artesanato, carpintaria, olaria, e muito mais. Enfim, um local que preserva e mantém viva a memória das gentes de Gondar.
Também no ensino Vila Seca merece destaque: na década de cinquenta começa a funcionar, com duas salas, a escola primária de Vila Seca. Encerrada, recentemente, para as atividades lectivas, foi-lhe atribuída uma nova missão: perpetuar a arte de modelar o barro preto de Gondar.

UDCG em visita de estudo com alunos das escolas
Por fim, o desporto. Fundada em 8 de Janeiro de 1980, a União Desportiva e Cultural de Gondar tem a sua sede e campo de Jogos em Vila seca. Com uma intensa actividade, quer no âmbito desportivo quer no âmbito cultural, a UDCG tem desempenhado um importantíssimo papel na formação da juventude gondarense, designadamente na ocupação dos seus tempos livres.
Em jeito de conclusão, podemos afirmar que Vila Seca, pelo seu passado, pelo seu contributo na afirmação de Gondar, tem lugar merecido no podium dos lugares mais importantes da freguesia.

(1)- MOREIRA, Miguel, “Necrópole Romana de Tubirei”, Sentir Gondar, blogue, 2019.
(2)- DIAS, Lino Tavares, "Tongobriga", Monografia, Ipar, 1997, Lisboa.
(3)- VAZ, Hugo Miguel Soares da Costa, “Barro Preto de Gondar: o design na olaria tradicional”, tese de Mestrado, Instituto Politécnico do Porto, 1918, pg. 49.
(4)- P. F. de A. C. de M., “História Antiga e Moderna da Sempre Leal e Antiquíssima Villa de Amarante”, Edição do Autor, 1814, pg. 89.

Miguel Moreira

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