terça-feira, 28 de abril de 2020

Linhagem dos Gundares


A ILUSTRE LINHAGEM DOS GUNDARES


O “Livro de Linhagens do Conde D. Pedro” (1), no seu Título LX, dedicado aos Gundares e à sua descendência, diz que “Dom Mem Gundar foi natural das Astúrias e veio com o Conde D. Henrique a Portugal; foi cavaleiro mui bom e mui honrado; jaz em Tolões; casou com uma Dona de Galiza, que havia nome D. Goda, e fez nela:
D. Fernão Mendes de Gundar;
Lourenço Mendes de Gundar;
D. Egas Mendes;
Dona Estevaínha Mendes, molher de Pedro Mendes de Aguiar;
Dona Loba Mendes, molher de Diogo Bravo de Riba de Minho;
Dona Urraca Mendes, molher de Alvite Guedes.”

Tendo desempenhado um relevante papel no contexto da Reconquista e repovoamento do território na margem esquerda do Tâmega, Mem Gundar fundou o Mosteiro de monjas bentas de Santa Maria de Gondar, na dependência do qual estiveram outros dois mosteiros: o de Lufrei e o de Santa Maria Madalena do Covelo. O de Gondar teve como patronos os próprios “milites” (cavaleiros) de Gondar (Inquirições de 1258) e tornou-se o panteão privado da família.
Mem Gundar jaz em Telões, no mosteiro Beneditino, e foi ele quem iniciou a linhagem de quem descendem os “Motta”, os “Rego” e, ainda, com ligações muito fortes aos “Pinto”.

 D. Fernão Mendes Gondar, primogénito de Mem Gundar, “ foi hum dos mais valerozos cavaleiros do seu tempo; ao Rei D. Afonso Henriques acompanhou na batalha do Campo de Ourique, e outras”. Casou-se com D. Maria Annes de quem teve dois filhos, um deles Gomes Fernandes de Gondar que casou com uma filha do alcaide de Celorico de Basto de quem teve um filho chamado Rui Gomes Gondar, apelidado “da Motta”, o primeiro a adoptar este apelido.
Brasão dos "Motta"
Quanto à origem do apelido, as opiniões divergem: uns dizem que o “tomou de sua Quinta da Motta, onde teve solar na freguesia de Vila Chã do Marão” (2);  outros dizem que o nome lhe advém da  quinta que possuíam no lugar da Mota, em S. Miguel de Fervença, Celorico de Basto. Controvérsias à parte, o certo é que é com ele que se inicia a linhagem dos “Motta”.
Um dos mais ilustres da família “Motta” foi Jerónimo da Mota. Viveu no tempo de D. João III, do qual foi desembargador e Juiz dos Feitos da Real Fazenda. Estudou em Siena, tendo concluído os estudos de forma brilhante. A “Senhoria” de Siena elegeu-o seu juiz em todas as causas cíveis, cargo que exerceu com excelência, e armou-o cavaleiro da milícia dourada de Siena. Em troca dos seus feitos, a “Senhoria” deu-lhe por armas as insígnias que ela própria usava, o leão coroado de Siena. Assim, D. João III, por carta de dois de Janeiro de 1552, acrescentou as suas armas, esquartelando-as com as da Senhoria de Siena: as cinco flores de lis dos Mota e o leão coroado de Siena.

Outro filho de Mem Gundar, D. Egas Mendes de Gundar casou com Maior Pais Pinto, filha de Paio Soares Pinto. Tiveram um filho, Rui Viegas Pinto, que viveu no tempo de D. Afonso Henriques e D. Sancho I e possuía vários casais na terra da Feira por dote de sua mãe. São eles que dão continuidade à família dos “Pintos”, iniciada por Paio Soares Pinto. O seu filho Gonçalo Rodrigues Pinto e os que se lhe seguiram moraram na quinta de Torre de Chã (3) em Riba de Bestança, Ferreiros de Tendais (Cinfães). O brasão da família com “cinco crescentes vermelhos” é uma alusão clara às batalhas contra os Mouros. No século XVI, a família Pinto adquiriu a Quinta da Torre da Lagariça (4), um robusto torreão militar, no concelho de Resende, que viria a ser imortalizado na obra de Eça de Queirós, “A Ilustre Casa de Ramires”.

Torre da Lagariça - Concelho de Resende
Também a família “Rego” tem origem em Egas Mendes Gundar. O nome inicia-se com Pedro Viegas do Rego (5), seu outro filho, e continua com Lourenço do Rego, filho de Pedro. O apelido julga-se ter origem na Honra com o mesmo nome, no lugar de Lordelo, Concelho de Lanhoso ou, segundo outros, na quinta do Rego, em Celorico de Basto. O brasão de armas dos “Rego” foi-lhes concedido por D. Afonso III, em 1276.

Já Lourenço Mendes de Gundar, outro filho de Mem Gundar, casou com Dona Elvira Origues de quem teve dois filhos: a filha, D. Teresa Lourenço que foi Abadessa do Mosteiro de Gondar; e o filho, D. Pedro Lourenço que foi Meirinho-Mor de D. Sancho II (1235) e “...tenens da Terra de Penaguião (1236) e da Terra de Baião (1246-1250).

Paço de Dona Loba em Padronelo - Amarante
Dona Loba Mendes, uma das filhas de Mem Gundar, terá mandado construir a Torre de Mormilheiro para sua própria residência. Casada com Diogo Bravo de Riba de Minho, por falta de Sucessão, terá chamado seu sobrinho, D. Fernão de Sousa, de Mogadouro, de quem descendem os Condes de Redondo, “senhores” do Concelho de Gouveia e Comendadores da Comenda de Santa Maria de Gondar, no século XVII (6).
A importância dos Gundares não se fica pelos nomes enunciados. Muitos outros mereciam figurar nestas linhas. Só não o fiz para evitar que o texto se tornasse demasiado longo e fastidioso para os leitores.
Miguel Moreira

(1)- Portugaliae Monumenta Histórica, “Livro de Linhagens do Conde D. Pedro”, ed. crítica de José Mattoso, Vol. II/1, Academia das Ciências de Lisboa, Lisboa, 1980.
(2)- “Archivo Histórico de Portugal”, n.º 26, 1.ª série, Janeiro de 1890.
(6)- P.F. de A.C. de M. “História Antiga e Moderna da Sempre Leal e Antiquíssima Vila de Amarante”, Londres, 1814, pág. 18.

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