“CANTAR OS
REIS” JÁ NÃO É O QUE ERA
O ciclo do
Natal fecha-se, segundo a tradição católica, a 6 de Janeiro, com a celebração
do “dia de Reis”.
Integrada nesta celebração, em Gondar, como na maioria das terras vizinhas, era tradição “cantar os Reis”. Assim, no dia ou na véspera de Reis, pela noite fora, grupos de amigos juntavam-se e iam “cantar os reis”. Não de porta em porta, como hoje se faz, mas apenas a casas que, por alguma razão, o justificavam: familiares, amigos, pessoas “gratas” da terra... Eu, com um grupo de amigos, gostava de cantar os reis e fazia-o todos os anos. Não íamos a muitas casas (duas ou três, não mais, por dia). Em silêncio, juntávamo-nos em círculo à porta da cozinha ou da sala e entoávamos os versos que, muitas vezes no próprio dia, tínhamos ensaiado: duas ou três quadras relativas ao “Menino Jesus” e aos “Reis Magos”, um refrão (Boas Festas, Boas Festas / Cantamos com alegria / Em honra do Deus Menino / Filho da Virgem Maria), e, depois, uma quadra dedicada a cada membro da família.
"Adoração dos Reis Magos" |
Integrada nesta celebração, em Gondar, como na maioria das terras vizinhas, era tradição “cantar os Reis”. Assim, no dia ou na véspera de Reis, pela noite fora, grupos de amigos juntavam-se e iam “cantar os reis”. Não de porta em porta, como hoje se faz, mas apenas a casas que, por alguma razão, o justificavam: familiares, amigos, pessoas “gratas” da terra... Eu, com um grupo de amigos, gostava de cantar os reis e fazia-o todos os anos. Não íamos a muitas casas (duas ou três, não mais, por dia). Em silêncio, juntávamo-nos em círculo à porta da cozinha ou da sala e entoávamos os versos que, muitas vezes no próprio dia, tínhamos ensaiado: duas ou três quadras relativas ao “Menino Jesus” e aos “Reis Magos”, um refrão (Boas Festas, Boas Festas / Cantamos com alegria / Em honra do Deus Menino / Filho da Virgem Maria), e, depois, uma quadra dedicada a cada membro da família.
Não pedíamos
dinheiro, mas o “dono” da casa, em sinal de amizade e gratidão, mandava-nos
entrar, alargava-se a roda à volta da lareira (e que bem nos sabia naquelas
noites gélidas de Janeiro!), tirava do sarilho um ou dois salpicões que partia
em finas rodelas, ia à adega e trazia algumas canecas de vinho novo e, enquanto
saboreávamos o gostoso paio e o saboroso tinto que se bebia pela caneca que
passava de mão em mão, passávamos algumas horas em alegre cavaqueira. Depois,
vestidos os agasalhos, partíamos para o próximo presenteado. E lá iniciávamos, novamente, o canto:
"Aqui vimos, aqui estamos
Aqui vimos, bem sabeis
Vimos dar as Boas Festas
E também cantar os Reis".
Quando a noite já ia longa regressávamos a casa, pois, no dia seguinte, havia mais.
"Aqui vimos, aqui estamos
Aqui vimos, bem sabeis
Vimos dar as Boas Festas
E também cantar os Reis".
Quando a noite já ia longa regressávamos a casa, pois, no dia seguinte, havia mais.
Esta
tradição adulterou-se completamente. Hoje, cantam-se “Os Reis” ou “As Janeiras”,
mas como forma de peditório. Os cantadores correm a maior parte das casas da
aldeia com o objetivo de otimizar a receita. E o ritual não se limita ao dia de
Reis, mas prolonga-se por todo o mês de Janeiro, daí a expressão “cantar os
Reis” ter sido substituída por “cantar as Janeiras”, uma expressão com uma carga menos religiosa.
Compreendo
as necessidades financeiras das Instituições, mas o verdadeiro “espírito de Reis” foi-se! É pena.Restam as memórias!
Miguel
Moreira
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