segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS DORES, em Vila Seca - Gondar

 

Uma provisão da Mitra Arquiepiscopal de Braga, existente no Arquivo Distrital de Braga e datada de 8/1/1788, “para se benzer a Capela da Senhora das Dores, da freguesia de Santa Maria de Gondar, no lugar do Rio, da dita freguesia”(1) e uma outra provisão “para se colocar confessionário na capela de Nossa Senhora das Dores, freguesia de Gondar, a favor do Padre António José Pereira de Carvalho, do lugar do Rio, da dita freguesia, da comarca de Vila Real”, em 27/12/1787,(2) são documentos bem esclarecedores sobre as datas e a pessoa que mandou construir a capela de Nossa Senhora das Dores, no lugar de Vila Seca.

Porém, já com data de 3/7/1785, existe no Arquivo Distrital de Braga um documento da Mitra Arquiepiscopal de uma “Sentença cível de justificação de património da capela de Nossa Senhora das Dores, a favor do Padre António José Pereira de Carvalho, da freguesia de Santa Maria de Gondar.”(3) Assim, podemos concluir, a partir dos documentos referidos, que a capela já estaria pronta em 1785 e apenas foi benzida em 1788.

Capela de N.ª S.ª das Dores, Vila Seca - Gondar

Nascido no lugar do Rio a 11 de Janeiro de 1742, o Padre António José Pereira de Carvalho era filho de José Fernandes Carvalho e de Ana Pereira Abreu e teve como padrinhos de batismo João Brochado e sua irmã Maria, filhos de Francisco Brochado e Brizida Pereira da Casa da Barroca em Vilela. Foi ordenado padre em 1773 (4) e faleceu, no lugar das Moutas, a 8 de Janeiro de 1812.

Também, datado de 1789, existe no Arquivo Distrital de Braga uma “Demissoria a favor do Padre António José Pereira de Carvalho… por tempo de três anos”(5).

Em 1826, a propriedade na qual a capela se insere, é adquirida pela Casa de Pascoaes. Portanto, 14 anos após a morte do clérigo que a mandou construir.

Mais tarde, Álvaro Pereira Teixeira de Vasconcelos, irmão mais novo do poeta Teixeira de Pascoaes, vai viver para a quinta de Vila Seca que herdou por morte de seu pai, João Pereira Teixeira de Vasconcelos. Sabemos que Álvaro Pereira realizou grandes obras na casa principal e, porventura, também na capela, pois as escadas exteriores que dão acesso ao coro alto não parecem fazer parte da construção original.

A capela, também conhecida por “capela do Encontro”, encontra-se erigida a uma boa centena de metros da casa principal, voltada para o vale do rio Carneiro e com uma soberba paisagem a seus pés. Defronte e lá bem no alto, avista-se a capela de uma outra “senhora”: Nossa Senhora do Castelo, em Carvalho de Rei.

De construção muito simples, a capela ostenta no retábulo do seu único altar uma expressiva imagem de Nossa Senhora das Dores com sete espadas apontadas ao coração, lembrando as sete dores sofridas pela mãe de Cristo: a profecia de Simeão; a fuga da sagrada família para o Egipto; o desaparecimento do menino Jesus; o encontro de Maria e Jesus a caminho do Calvário; Maria observando o sofrimento e morte de Jesus na cruz; Maria recebendo o corpo do filho retirado da cruz; e Maria a observar o filho a ser sepultado no Santo Sepulcro.

Mais uma capela de Gondar a merecer uma visita, até porque se encontra lado a lado com o Museu Rural do Marão que reúne um bom número de utensílios e artefactos, memórias das atividades agrícola e artesanal das comunidades locais.

Registos de Batismo e de Óbito do Padre António José Pereira de Carvalho


 Miguel Moreira

(4)- Segundo uma “Inquirição de genere” da Mitra Arquiepiscopal de Braga, no ano de 1773. As “inquirições de genere” eram processos necessários para a ordenação dos párocos e consistiam na inquirição de testemunhas para comprovar a filiação e provar a condição de "cristão velho". 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

A Estalagem da Boavista, em Gondar

 

A localização, lado a lado com a estrada pombalina, a dimensão da construção, as portas elevadas do rés-do-chão para permitir a entrada de cavalos e outros animais de carga, as largas vistas sobre o vale do rio Carneiro, tudo isto fazia crer tratar-se de uma estalagem para viajantes que do Alto Douro e Beiras se deslocavam para o litoral. Faltava-me, porém, um documento que me retirasse as dúvidas.

Estalagem da Boavista (Estrada Pombalina - Gondar)

Estalagem da Boavista (Estrada Pombalina - Gondar)

Ora, consegui a tão desejada confirmação: o registo de um óbito ocorrido a 15 de Fevereiro de 1811, precisamente na estalagem da Boavista.

Óbito ocorrido na Estalagem da Boavista em 15/02/1811
Diz, o documento, o seguinte:

Na Estalagem de José Ribeiro da Boa-Vista desta freguezia de Santa Maria de Gondar, faleceo hum passageiro por nome Marcos que dizia ser da freguezia de Serafam da Comarca de Braga sem Sacramentos, por ter morte emprevista e se dar com elle morto, aos quinze dias do Mês de Febreiro do Anno de mil e oitocentos e honze, e no mesmo dia de tarde foi sepultado dentro do Alpendre desta Igreja, e para constar fiz este termo... O R.or Manuel Guedes de Carvalho.”

Óbito ocorrido na Estalagem da Cabana em 5/01/1813

Melhor, ao pesquisar o registo de óbitos da freguesia de Gondar no século XIX, deparei-me com outro óbito, este ocorrido na Estalagem da Cabana. Existiram, assim, pelo menos duas estalagens em Gondar: uma na Boavista, outra na Cabana. Sobre a da Cabana, diz o documento: “no dia sinco do mês de Janeiro do anno de mil oito sentos e treze, faleceo na estalagem da Cabana desta freguezia hum homem cujo nome e terra se nam sabe, o qual tinha passado para sima na companhia de hum ourives e dava a demonstrar que teria pouco mais ou menos quarenta annos... Foi sepultado no adro desta Igreja de Santa Maria de Gundar...”

Recorde-se, a propósito, que a estrada pombalina que, por Amarante, ligava Mesão Frio ao Porto, foi mandada construir pela Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, sob os auspícios do Marquês de Pombal, e a sua construção terá ocorrido entre finais do século XVIII e princípios do Século XIX. A sua principal finalidade era ligar, por estrada, o Douro ao Porto, tornando-se, deste modo, ponto de passagem para inúmeros viajantes, sobretudo ligados ao comércio dos vinhos do Douro. As duas estalagens mencionadas, junto à estrada pombalina, acolhiam os muitos viajantes nas suas demoradas e, muitas vezes, atormentadas viagens.

Miguel Moreira

Para mais informações, consulte:

https://pesquisa.adporto.arquivos.pt/details?id=537432

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

SALVADOR DO MONTE: a primitiva igreja e um insólito acontecimento

Documento da maior importância para a história da freguesia de Salvador do Monte, a “Memória Paroquial”, redigida em 1758, dá-nos, entre outras coisas, preciosas informações sobre a história da sua igreja, a saber:

“Esta igreja (Salvador do Monte) estava nos seus princípios situada no outeiro mais alto que tem esta freguezia donde se mudou para o sítio donde hoje está. Longe das casa da residencia hum tiro de espingarda, mas tem pegadas humas casas que mandei fazer em que mora o cura. Foy mudada a igreja no anno de 1646 por ordem do senhor Bispo que entam era do Porto o Ill.mo D. Joam de Souza; apareceu no altar mayor uma conta de algarimo romano de que constava ser fundada a Igreja no dito monte no anno de ICXXII. Esta hoje a igreja para baxo do dito monte, mas em sitio agreste ...” (1)

Igreja de Salvador do Monte
Sobre o mesmo assunto, já em 1726, Craesbeeck nas suas “Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho” dizia-nos o seguinte: 
“a igreja de São Salvador do Monte he abbadia do Padroado Real. Não tem sacrário he seu abbade hoje o Padre Alexandre de Queiros e Sousa. Tem somente huma capella fillial, a saber: Nossa Senhora de Mozellos. Não tem mais cousa digna de memoria em razão de que esta igreja foi mudada do sitio do alto do monte de Nossa Senhora de Louredo, para perto da residencia dos abbades, que he um citio muito mais abaixo do dito monte; e na antigua ficaram as campas das sepulturas, que haviam, e não são poucas; e ahi mesmo se levantou hum cruseiro de pedra, pera memoria de que naquele citio estivera  antiguamente a igreja e fora naquelle lugar sagrado; e no lugar de Louredo está no caminho hum padrão das almas, todo pintado, com sua caixa para as esmollas, que deixão os passageiros.” (2)

Que a primeira igreja de Salvador do Monte se situava no alto do monte e que, em 1646, foi transladada para o local onde hoje se encontra, perto da residência dos abades, é o que se pode concluir dos relatos destes dois importantes documentos.

Também sobre a mesma igreja, o “Archivo Histórico de Portugal”, publicado em setembro de 1889, relata-nos um insólito acontecimento que passo a transcrever não tanto pela sua originalidade mas pela minúcia da descrição, a saber:

“Em 29 de Maio de 1745, uns sacrilegos entraram na igreja de S. Slvador do Monte, e arrombando a porta do sacrario, tiraram d’ella o ciborio de prata, que levaram, espalhando as sagradas particulas pelo altar e pelo chão, achando-se umas nos pires das galhetas, outras n’um vazo e uma debaixo da pedra d’are. Levaram tambem a ambula dos santos oleos, que era de estanho, derramando-os sobre as mesmas particulas. De uma imagem de nossa senhora tiraram a corôa e a quebraram com grande incedencia, depois de conhecerem que era de latão.

Chegou esta notícia à cidade do Porto e logo d’ali sahiu o vigário geral com alguns desembargadores do senado, a syndicar do caso. A 18 de junho mandou o bispo publicar uma pastoral, para que na sé d’aquella cidade se fizessem preces com o Sacramento exposto, na segunda feira, 25 do dito mez, nos dois dias seguintes, e nos de 22, 23 e 24, em todas as igrejas do Porto e seus suburbios, como tambem em todas do bispado, depois de lhes chegar a noticia da mesma pastoral.” (3)

Considerando a sua importância e significado, publicaremos, oportunamente, na íntegra, a “Memória Paroquial de Salvador do Monte”, no ano de 1758.

Miguel Moreira

(1)- https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4240829

(2)- Craesbeeck, Francisco Xavier da Serra, “Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho no ano de 1726”, Vol. II, pág. 69, Edições Carvalho de Basto L.da

(3)- https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/ArchivoHistorico/ISerie/ISerie_master/ArchivoHistoricodePortugal_SerieI.pdf

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Ponte do Rio / Outeirinho

 “Em 1874, próximo de Padornêllo, cahiu tão enorme porção de chuva que as águas cavaram a estrada, em alguns sítios, até à profundidade de 20 metros. Foi tão violenta a tempestade, que arrastou para a estrada tão grandes penedos, que, mesmo depois de quebrados a fogo, houve grande dificuldade em removê-los. Supõe-se ter sido uma tromba marinha que foi ali rebentar”. (1)

É desta forma que o “Archivo Historico – Narrativa da Fundação das Cidades e Villas do Reino...”, publicado em Setembro de 1889, descreve a tromba d’água que se abateu sobre toda a bacia do rio Carneiro, desde o Alto dos Padrões até Padornelo, no ano de 1874. De notar que entre o fenómeno meteorológico descrito (1874) e o ano da publicação (1889) medeiam apenas 15 anos, o que confere à descrição um grau elevado de veracidade.

Ponte do Rio / Outeirinho (Gondar)

Também um manuscrito do século XIX, existente na Casa das Figueiras, em Vilela, escrito pelo seu proprietário, à época, e publicado por “Gondar com Memória”, descreve, de forma bastante pormenorizada, a devastação provocada por uma grande tempestade, da seguinte forma: 
Manuscrito das Figueiras (Vilela)
(Créditos "Gondar com Memória)
“no dia 13 de dezembro de noute e minhecendo para o dia 14 hua grande tempesttade donde veiu hum denúvio de agoa levou hua ponte de pedra q avia no Riu p.ra passar p.ra o Outeirinho e Crugeiras e tambem todos os moinhos e pisões que avia da ponte que avia o fundo de Carneiro enthé à ponte d’Aliviada Só ficou 1 o pe da ponte do Riu e outro na ovelhinha q. he de M.el Ant.º de Andrade. 
Os açudes dos moinhos e campos não ficou nenhua..., e campos não deixou nenhum q. não arruinasse”, lê-se no documento.

Tudo leva a crer que o fenómeno descrito no “Archivo Histórico” é o mesmo que é relatado no manuscrito das Figueiras. Não seria muito plausível terem acontecido dois fenómenos semelhantes em curto espaço de tempo. Assim sendo, estamos perante dois documentos de grande importância para a História da ponte do Rio / Corujeiras.

Concluindo: em 1874 já havia uma ponte de pedra a ligar o lugar do Rio ao Outeirinho e Corujeiras; esta ponte foi completamente destruída pelas águas da enxurrada provocada pela tromba de água, "como se fosse um dilúvio" (lê-se no manuscrito); para a substituir construíu-se uma nova ponte em cantaria de granito que, embora modificada, ainda existe no local.

Ponte do Rio / Outeirinho (atual)

Traspondo o rio Carneiro, no lugar do Rio, a ponte liga a estrada M576, a partir de Vila Seca, à estrada N101, no lugar do Escondidinho. É constituída por um só arco, de volta perfeita, e originalmente era ladeada por uma graciosa balaustrada em granito (como se pode ver na imagem 1) de que foi espoliada, nos anos 80, e substituída por um corrimão metálico a fim de possibilitar a passagem de veículos automóveis. A meu ver, bem mais bonita na sua forma original.
Miguel Moreira

 (1)- in “Archivo Historico – Narrativa da Fundação das Cidades e Villas do Reino...”, 1.ª Série, N.º I, de Setembro de 1889, pág. 102.

https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/ArchivoHistorico/ISerie/ISerie_master/ArchivoHistoricodePortugal_SerieI.pdf

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

MOTA e COSTA (MAESTRO, MÚSICO E COMPOSITOR)

Nascido em Gondar, em 28 de Novembro de 1938, faleceu hoje, 8 de Dezembro de 2022, Manuel do Carmo da Mota e Costa.

Homem distinto e muito querido dos amarantinos, vai ser sobretudo recordado como exímio tocador de acordeão, com merecido reconhecimento no país e no estrangeiro.

Manuel do Carmo Mota e Costa
Seguindo os passos de seu pai, Armando da Mota e Costa, que, nos salões da sua casa no Cavalinho, ensaiava e dirigia a Tuna de Gondar, Mota e Costa, ainda criança, deu os primeiros passos na aprendizagem de acordeão com um músico de uma orquestra circense que atuava em Amarante.

Aos catorze anos vai estudar para a cidade do Porto onde conhece grandes mestres da música e, com professores qualificados, aprende as melhores técnicas do acordeão.

No Instituto Industrial do Porto, onde era aluno, conhece outros bons músicos e, em 1957, começa a tocar no Conjunto Académico do Porto. A sua primeira grande experiência como acordeonista.

Regressado a Amarante, foi trabalhar para as Indústrias Tabopan e, por vontade do seu administrador José Gonçalves de Abreu, fundou a "Festada do Tâmega". Com um reportório dedicado à música tradicional portuguesa, sobretudo da região norte de Portugal, o grupo somava êxitos e era convidado para atuar em vários eventos do norte ao sul do país. O conjunto manteve-se cerca de onze anos e, desfeito, Mota e Costa passou a dedicar-se ao ensino do acordeão e a tocar em diversos grupos de baile, dedicando-se sobretudo a temas clássicos como tangos e valsas. Funda o conjunto "Mota e Costa".

Para a história de Amarante fica a realização, entre 1979 e 1993, do "Festival de Música do Tâmega", por iniciativa e direcção de Mota e Costa. Com a particularidade de se realizar numa pequena ilhota do Tâmega, foi um dos melhores festivais do seu género no país, atraindo grandes nomes da canção.

Nos últimos anos da sua vida, dedicou-se ao ensino do acordeão e foi membro de vários júris em concursos musicais nacionais e internacionais.

No dia da sua morte, aqui fica a minha singela homenagem a um amigo.

Miguel Moreira

Mota e Costa com amarantinos da sua geração




Tuna de Gondar sob a direcção de Mota e Costa


quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Capela de S. Tiago - Lufrei Amarante

 

A relevância que as peregrinações a Santiago de Compostela assumiram no contexto europeu e, de modo especial, na Península Ibérica, fez com que ao longo dos “caminhos” surgissem inúmeras igrejas e capelas dedicadas ao culto a S. Tiago.

S. Tiago - Lufrei, Amarante
Amarante que, na época romana, terá sido atravessada por uma via que, partindo de Bracara Augusta, seguia para Trás-os-Montes através do Marão, conservou e aprofundou esta sua vocação viária a que não foi alheia a construção/reconstrução da ponte sobre o Tâmega sob os auspícios de S. Gonçalo. Paulatinamente, Amarante ganhava importância no contexto regional, importância que foi consolidada com a construção da Igreja e Mosteiro de S. Gonçalo, no século XVI, e as peregrinações ao santo, oriundas de vários pontos do norte do país.

Dito isto, não é de estranhar que Amarante surja como ponto de passagem quase obrigatória dos peregrinos que, oriundos do Alto Douro e das Beiras, se dirigiam a Santiago de Compostela. Aliás, as peregrinações a S. Gonçalo e a Santiago têem muito de comum. Neste contexto, a existência, em Amarante, de duas Albergarias, construídas no séc. XII, uma na margem direita (rua da Ordem?) e outra na margem esquerda do rio (Albergaria do Covêlo), indiciam o crescente aumento de peregrinos e a necessidade de lhes conceder o devido apoio.

Voltando ao tema desta publicação, a existência em Lufrei de uma pequena capela dedicada a S. Tiago insere-se no âmbito do desenvolvimento do culto ao santo do mesmo nome. Recorde-se que a “estrada” que ligava Amarante a Trás-os-Montes passava por este lugar, a caminho do Marancinho e Ovelha do Marão. A capela de S. Tiago, existente na Igreja de S. Gonçalo de Amarante, insere-se, igualmente, neste contexto.

Quanto à capela de S. Tiago, em Lufrei, ela não vem referida nas Memórias Paroquiais, de 1758, mas Francisco Xavier da Serra Craesbeeck, em “Memórias Ressuscitadas de Entre Douro e Minho”, 1726, refere o seguinte: “Tem esta igreja (Lufrei) 4 capellas filliaes, a saber: São Salvador do Monte...; São Miguel o Anjo ...; Nossa Senhora dos Praseres...; São Tiago, no lugar deste Sancto: capellinha pequena, que desce por escadas para baixo” (1). Esta é, aliás, uma das poucas referências escritas sobre o assunto. Da capela não restam quaisquer vestígios a não ser a imagem do santo que se conserva na atual Igreja Paroquial. No local, entretanto, foram construídas umas “alminhas”, datadas de 1842.

(1)- Craesbeeck, Francisco Xavier da Serra, “Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho”, vol. II, pág. 59.

Miguel Moreira

domingo, 27 de março de 2022

Romeiros de S. Gonçalo de Amarante

 

(Cliché do distinto fotógrafo sr. Vitorino Melo, de Penafiel, gentilmente enviada à Ilustração Portugueza pelo solícito correspondente de O Século naquela cidade, sr. Miranda da Veiga)

«Ilustração Portuguesa» - nº698 - 7 de Julho de 1919

Segundo a Memória Paroquial de Amarante, em 1758,

«Hé esta igreja dos santuarios mais vezitados que tem este Reino de romagens todo o anno. No dia dez de Janeiro que hé o de Sam Gonçallo, concorre innumeravel povo. De vespora do Espiricto Santo vem muita gente de Guimarais; na primeira oitava o Marquezado de Villa Real, quada freguezia separada com seu clamor e todos os homens e mulheres trazem vellas de cera que deixam de esmola. E no meio das procições trazem ramos de castinheiro cheios de cera que também deixam. No mesmo dia vem em procissam o concelho de Mondim de Basto e na mesma forma vem na primeira Segunda Feira de Junho o concelho de Santa Cruz, que tem vinte e sinco freguezias, o de Tuias e o de Canavezes em honze do mesmo mês, o de Felgueiras em treze, o de Unham, a dous de Julho vem a freguezia de Soalhais e no mesmo dia a do Grillo, Villa Marim, Teixeiró, Teixeira, Sediellos, Mondrois. Em Agosto vem o concelho de Montellongo e as freguezias de Santa Marinha do Zezere, Trezouras, Penajoia, Fontes e Resende, Viariz e Gestaçô. Em Setembro vem a freguezia de Barro, Sam Martinho de Mouros, Sam Pedro de Paos e Sam Joam de Ouvil. Em Outubro a freguezia de Lobrigos, nos Sabados deste mês e no de Novembro vem gente da Terra da Feira e concelhos da Maia, que distam desta terra dez, doze e quinze legoas».

in Memória Paroquial de Amarante, 1758

«Ilustração Portuguesa» - nº698 - 7 de Julho de 1919