quinta-feira, 13 de agosto de 2015

GONDAR ROMANO

vias, povoados e outros achados

Embora a afirmação de Gondar se evidencie de forma mais sustentável após a fundação do seu mosteiro, no séc. XII, a sua ocupação e povoamento é muito anterior. A sua localização geográfica, nos vales férteis dos rios Ovelha e Carneiro, e outras ribeiras que neles desaguam, potenciava o desenvolvimento de atividades agrícolas e a fixação de pessoas.
Neste processo, as vias e caminhos desempenhavam papel fundamental, facilitando a circulação de pessoas e bens.


     Mapa (provável) das vias e caminhos romanos em Gondar


Embora o Itinerário de Antonino não faça referência a estradas romanas na região, existem fortes indícios da sua existência. Uma dessas vias ligava a cidade romana de Tongobriga (Freixo-Marco de Canavezes) ao santuário rupestre de Panóias (Constantim-Vila Real). Seguindo as margens do rio Ovelha, que atravessava, na Aliviada, pela “ponte do Arco”, esta via chegava à Lomba e descia a Padronelo (pensa-se que o topónimo “Padronelo” poderá derivar de “padrão”, um marco miliário que aí terá existido). Aí bifurcava-se, seguindo uma para a esquerda indo convergir com a que de Amarante seguia para Panóias, e a outra para a direita em direcção às minas do Teixo, no Marão, passando por Vilela (Villa Leça), Vila Seca, Tubirei, Valinhos ( Bustelo), Corba Chã e Murgido.
Eram vias secundárias e, à semelhança de outras reconhecidamente romanas, eram compostas por troços de terra batida e, nas encostas, por outros com lajeado simples e irregular. Não encontramos, portanto, aqui vestígios da tradicional calçada romana.


Muro de suporte da via romana do Marancinho


Destas duas vias, identificamos, claramente, o troço de Marancinho que conserva um pontão romano ao atravessar a ribeira e uma parte da via suportada por um robusto muro, devido ao declive do terreno, e algum lajeado.
A que seguia para as minas do Teixo, por Gondar e Bustelo, seria em terra batida e, por isso, mais difícil de identificar. No entanto, tendo em conta os achados arqueológicos nesta zona, pensa-se que seguiria o seguinte trajeto:
- “VILLA LEÇA” (Vilela): que, aproveitando as boas condições do solo, poderá ter sido um “vicus” romano. Apareceram aqui restos de cerâmica comum, atualmente no Museu Nacional de Arqueologia (9).
- PANELEIROS (Vila Seca): provável “habitat romano”. Aqui foram encontrados, em 1904, um jarro, um potinho, um pote e um prato, cerâmica comum romana, em depósito no Museu Nacional de Arqueologia. (7).


Localização e espólio da necrópole de Tubirei


- TUBIREI: trata-se de um castro romanizado, com a respetiva necrópole. O espólio da necrópole é composto por 74 pregos, que pressupõem um ritual funerário de inumação, 14 mós de moinhos manuais e 24 vasos de cerâmica comum, que se subdividem em tipologias diversas, nomeadamente bilhas, jarros e pratos (8).
O número de achados nesta zona de Gondar (Paneleiros, Tubirei e Vilela) e a boa implantação do lugar poderá indiciar a existência de uma aldeia romana.
- VALINHO (Bustelo): aqui foi recolhido, em 1955, um conjunto de 74 moedas de broze e um pote, constituindo um tesouro ou um depósito funerário datável da 2.ª metade do séc. XIV (1).
Daqui, a via seguia para as minas de estanho do Teixo, perto das quais foram encontrados indícios de um possível acampamento militar romano (“Castra Oresbi”).

Miguel Moreira

Nota: Os números entre parêntesis referem-se à localização, no mapa, dos respetivos achados.

Fontes:
- DIAS, Lino Tavares, TONGOBRIGA, MONOGRAFIA, IPAR, 1997, Lisboa.
- CARVALHO, Helena Paula Abreu de, O POVOAMENTO ROMANO NA FACHADA OCIDENTAL DO CONVENTUS BRACARENSIS, Universidade do Minho, 2008.

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