ALDEIA DE VILA SECA
um pouco da sua história
As origens de Vila Seca remontam, no mínimo, ao período da romanização. A prová-lo estão as descobertas, neste lugar, em 1904, de cerâmica
comum romana, designadamente, um jarro, um potinho, um pote e um prato, em
depósito no Museu Nacional de Arqueologia. Também em Tubirei, uma localidade
muito próxima de Vila Seca, foram descobertos vestígios do que se julga ter
sido uma necrópole romana. Pode, até, tratar-se de um castro romanizado. Aqui foram encontradas, em meados do século XX, bilhas, jarros,
pratos, mós de moinhos manuais, pregos, um colar de ferro e castanhas. Material
depositado no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso (1).
Também sabemos que muito
próximo do local passava uma via romana que, bifurcando-se da via de
Marancinho, seguia por Vilela, Vila Seca e Corvachã em direcção às minas
romanas do Teixo.
Considerando o que
acabamos de dizer, há mesmo quem ponha a hipótese de Vila Seca, aproveitando as
condições do vale drenado pelo rio Fornelo, ter sido um vicus ou até uma
villa romana (2).
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Vila Seca, Gondar - Amarante |
Escrever sobre Vila Seca
sem referir a sua maior referência - a olaria – seria algo impensável. Não
fosse essa a razão do nome pelo qual foi conhecida a aldeia durante largos anos
– lugar de Paneleiros!
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Manuel Teixeira (oleiro) |
Com origens que remontam
ao século XVII – a arte terá sido introduzida em Gondar por migrantes oriundos
de terras distantes como São Martinho de Paus, na altura freguesia de São Martinho de Mouros. A partir de então, o
trabalho do barro tornou-se a principal
ocupação e meio de sustento das famílias do lugar até meados do século XX. Contudo,
a dureza da profissão e os parcos rendimentos que dela advinham fizeram com que,
paulatinamente, a actividade da olaria fosse abandonada. Em 1945 ainda se
registavam 18 rodas a funcionar em Vila Seca, Rio e Corujeiras. Em 1962 já só
restavam 4 oficinas e 6 oleiros a trabalhar. Em 1991 já só trabalhava um oleiro
em Vila Seca, Manuel Teixeira. Atualmente, em Gondar apenas existe um oleiro a
trabalhar e de forma esporádica, César Teixeira (3). Todavia, recentemente, tendo-se
candidatado ao concurso das “7 Maravilhas da Cultura Popular”, o Barro Negro de
Gondar recebeu, pelo Conselho Científico, o selo de nomeado na categoria de
Artesanato, em concurso a realizar ainda este ano de 2020. Bravo, Gondar!
Unidos na defesa da sua aldeia e unidos,
tantas vezes, pelos casamentos entre famílias de oleiros, estes homens e
mulheres também souberam estar unidos na luta contra as investidas que, em
1809, as tropas do exército napoleónico faziam contra as populações, durante a
II Invasão Francesa. Os “Paneleiros”, como eram designados, são por diversas
vezes elogiados pela sua bravura e valentia. Um autor da época refere-se-lhes
como os “esforçados Paneleiros” quando em Mesão Frio se apoderaram de “quatro
caixões de pinho, dous baús de couro e duas malas”, pertences do
general Loison (4).
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Capela de Nossa Senhora das Dores - Vila Seca |
A ligação de Vila Seca
aos “Pascoaes” é outro tema que importa considerar. Um irmão do poeta Teixeira
de Pascoaes, Álvaro Pereira Teixeira de Vasconcelos, herdou a Casa do Encontro
e fez dela a sua residência. Pouca importância isso teria, não tivesse ele enriquecido
a sua capela, de Nossa Senhora das Dores; descoberto e divulgado todo o espólio
da necrópole de Tubirei; e, não menos importante, mandado construir um engenho
de azeite, a “menina dos seus olhos” que ele próprio dirigia. Não esqueçamos
que o lugar era um dos principais produtores de azeite da freguesia.
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Museu Rural do Marão - Vila Seca (Gondar) |
Já que se fala do engenho, é
nas suas instalações que está instalado o “Museu Rural do Marão”. Inaugurado a
21 de Fevereiro de 2009, o museu, fiel às origens do edifício, manteve todo o
equipamento relacionado com o engenho e reuniu um vasto espólio que inclui todo o tipo de alfaias agrícolas, móveis e utensílios domésticos, artesanato,
carpintaria, olaria, e muito mais. Enfim, um local que preserva e mantém viva a
memória das gentes de Gondar.
Também no ensino Vila
Seca merece destaque: na década de cinquenta começa a funcionar, com duas
salas, a escola primária de Vila Seca. Encerrada, recentemente, para as atividades
lectivas, foi-lhe atribuída uma nova missão: perpetuar a arte de modelar o
barro preto de Gondar.
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UDCG em visita de estudo com alunos das escolas |
Por fim, o desporto.
Fundada em 8 de Janeiro de 1980, a União Desportiva e Cultural de Gondar tem a
sua sede e campo de Jogos em Vila seca. Com uma intensa actividade, quer no
âmbito desportivo quer no âmbito cultural, a UDCG tem desempenhado um importantíssimo
papel na formação da juventude gondarense, designadamente na ocupação dos seus
tempos livres.
Em jeito de conclusão,
podemos afirmar que Vila Seca, pelo seu passado, pelo seu contributo na
afirmação de Gondar, tem lugar merecido no podium dos lugares mais
importantes da freguesia.
(1)- MOREIRA, Miguel, “Necrópole
Romana de Tubirei”, Sentir Gondar, blogue, 2019.
(2)- DIAS, Lino Tavares, "Tongobriga",
Monografia, Ipar, 1997, Lisboa.
(3)- VAZ, Hugo Miguel
Soares da Costa, “Barro Preto de Gondar: o design na olaria tradicional”,
tese de Mestrado, Instituto Politécnico do Porto, 1918, pg. 49.
(4)- P. F. de A. C. de
M., “História Antiga e Moderna da Sempre Leal e Antiquíssima Villa de
Amarante”, Edição do Autor, 1814, pg. 89.
Miguel Moreira