sexta-feira, 23 de abril de 2021

Ovelhinha e a Ordem do Amaranto

 

Com “pompa e circunstância”, em Outubro de 1971, Amarante recebia, ao mais alto nível, uma delegação da prestigiada ordem sueca “AmaranterOrden” (1). Do evento, o jornal amarantino “Flor do Tâmega” deixou-nos uma detalhada reportagem, documentada ao pormenor com fotografias de Eduardo Teixeira Pinto e um minucioso texto do professor F. Soares Gonçalves.

"Flor do Tâmega" de 3/10/1971

A comitiva, presidida pelo Barão Von Essen, Grão-Mestre da “AmarantenOrden”, e de que faziam parte alguns membros da aristocracia sueca, foi recebida pelo presidente da Câmara de então, o comendador José Gonçalves de Abreu, membros do executivo amarantino, pelo Governador Civil do Porto e pelo Presidente da Comissão de Turismo da Serra do Marão, Eng. Pedro Alvellos.

Como fundamento desta tão ilustre “embaixada” esteve a pressuposição de que a referida “Ordem do Amaranto” teria sido fundada, em 1653, pela rainha  Cristina da Suécia, em homenagem a D. António Pimentel, presumivelmente nascido em Ovelhinha, Gondar, e que o nome “Amaranto” seria alusivo a Amarante. Dizia-se, ainda, que a rainha ter-se-ia apaixonado por D. António Pimentel e que este, no baile inaugural da Ordem, teria surpreendido a raínha, disfarçado-se de pastor do Marão. Com base nestes pressupostos, o programa da visita incluíu uma deslocação à Casa do Ribeiro, em Ovelhinha, Gondar, pertença da presumível família de António Pimentel.

Todavia, a verdade dos factos é a seguinte:

D. António Pimentel
D. António Pimentel, de seu nome completo António Pimentel de Prado y lo  Bianco, nasceu em Palermo (Itália) em 1604. Era filho de Lorenzo Pimentel de Prado que, por sua vez, tinha nascido em Joarilla (Leon), mas que foi viver para Nápoles, onde desempenhou vários cargos públicos e conheceu a sua futura esposa. Casados, foram viver para Palermo, onde nasceram os seus três filhos. Em 20 de Abril de 1652, um dos filhos, António, é nomeado embaixador de Espanha em Estocolmo, tendo, ao que parece, conquistado, desde logo, o coração da rainha Cristina, com quem privava e que terá fundado, em sua honra, a AmarantenOrden.

São, por isso, de descartar as presumíveis origens de António Pimentel em Ovelhinha, na freguesia de Gondar. Nem existem dados que indiciem a sua ascendência em Ovelhinha.

Relativamente ao nome Amaranto, este não é alusivo a Amarante (cidade portuguesa), mas sim ao Amaranto (planta/flor). Tanto assim é que grande parte do discurso proferido pelo Grão-Mestre da Ordem, Barão Von Essen, na sessão solene nos Paços do Concelho de Amarante, é preenchido com referências às várias espécies dessa planta e às suas propriedades.

Também em relação ao facto de António Pimentel se apresentar no baile inaugural vestido de pastor do Marão, sabemos que tal não é verdade e que o embaixador se apresentou disfarçado de Marte, deus romano da guerra.

Miguel Moreira

(1) - Ordem do Amaranto:

Emblema da "Ordem do Amaranto"
Ordem sueca fundada, em 6 de janeiro de 1653, pela raínha Cristina. Segundo consta, a ordem foi fundada em homenagem e memória dos seus encontros privados com o embaixador espanhol D. António Pimentel. Foi, inicialmente, limitada a 15 cavaleiros que “participavam dos prazeres mais íntimos da rainha” e que tinham de permanecer solteiros. A sua fundação deu-se durante um baile convocado pela rainha, num sábado da epifania, no palácio Jacobsdal, em que os participantes deviam apresentar-se disfarçados de outros personagens.
O lema da ordem é "dolce nella memoria" e o nome anda associado a uma flor, considerada "imperecível", o Amaranto.
Em 1656 a ordem foi dissolvida, mas, em 1873, o seu nome foi apropriado pelos maçons como a "Ordem do Amaranto" (Order of the Amaranth).

Miguel Moreira

domingo, 11 de abril de 2021

Moinho do Outeirinho - Gondar

 

É de nós sobejamente conhecida a importância que a indústria moageira teve em Gondar. Já, em 1758, a Memória Paroquial de Gondar, descrita pelo P.e António Coelho Pedroza, referia que Gondar tinha "vários moinhos alveiros (de trigo) e broeiros (de milho). (1)

Aproveitando os recursos hídricos que lhe eram oferecidos pelos rios Ovelha e Carneiro que, nascendo nas encostas do Marão e com caudais generosos, atravessam a freguesia, construíram-se nas suas margens mais de uma dezena de moinhos, uns para uso privado, outros para fins industriais. Os do Salto, os das Sumidas, da Saída e os do Tojal, no rio Ovelha, e os do Outeirinho e da Ovelhinha, no rio Carneiro, contam-se entre os mais importantes.


Moinho do Outeirinho - Gondar


Com um passado de mais de duzentos anos, o do Outeirinho, no rio Carneiro, é, sem dúvida, dos mais antigos da freguesia.

Um documento de 1830, “Livro de Registo dos Fogos e Moradores no Distrito da 2.ª Companhia das Ordenanças de Gestaço”, já nos dá conta de um moleiro no lugar do Outeirinho. Já o “Recenseamento dos Mancebos para o Recrutamento Militar”,  entre 1870 e 1880, regista dois moleiros do mesmo lugar. E em 1882, no “Recenseamento Eleitoral do Concelho de Amarante”, na distribuição de famílias por profissão, há o registo de um moleiro no lugar do Outeirinho, bem como, dois lavradores, um oleiro, um pedreiro, dois proprietários e um cantoneiro.

Propriedade do sr. Arnaldo Pereira Nogueira, por herança de Madalena Pereira da Costa, em meados do século passado, os moinhos do Outeirinho foram explorados, durante mais de trinta anos, pelo sr. Alfredo Nogueira, o “ti Alfredo do Moinho”, até à década de sessenta do século passado. Com duas mós, uma para milho e outra para trigo, os moinhos foram o sustento da sua família, com os seus dois filhos. Porém, com os filhos a seguirem outras profissões, os moinhos ficaram abandonados, até porque a indústria da moagem, feita por moinhos de rodízio, deixou de ser rentável, não conseguindo competir com os novos moinhos movidos a electricidade, mais produtivos e necessitando de menos mão de obra.

Recentemente, o seu atual proprietário, Miguel Moreira, procedeu a obras de reparação das coberturas,  consolidação das paredes e colocação de novas portadas, conservando, todavia, as estruturas originais e a maior parte das peças indispensáveis ao funcionamento do moinho.


Moinho do Outeirinho - Gondar


De referir que o moinho pode ser visitado por quem o desejar fazer, bastando, para o efeito, contactar os seus proprietários. Também, e porque localizado num aprazível local, à beira rio e com uma pequena praia fluvial, tem servido para convívios familiares e de amigos, como ponto de passagem de percursos pedestres e para outros eventos. Todavia, segundo o seu proprietário, o desejável seria a recuperação total dos moinhos e a sua colocação em funcionamento, proporcionando, assim, visitas de estudo a alunos das escolas e ao público em geral.