quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Fábrica de Lanifícios de Padronelo

 


Fundada, em 1885, pelo brasileiro Manuel Pereira da Silva (1), a Sociedade Garcia Ribeiro & C.ia instalou-se de raiz em Padronelo, Amarante, nas margens do rio Ovelha, cujas águas utilizava como força motriz. Destinada à produção de lanifícios, a fábrica seguiu o modelo de moinho em altura, accionado por uma roda originalmente em madeira. 


Fábrica de Lanifícios de Padronelo

Em 1857, foi equipada com sete máquinas inglesas, entre as quais, duas cardadeiras, uma bones para desengrossar o fio, duas fiandeiras e uma tesoura mecânica, e, no ano seguinte, adquiria mais um conjunto de novas máquinas belgas. Em 1860, a roda de madeira foi substituída por uma roda de ferro construída na Fundição do Bicalho, no Porto, e, no mesmo ano, foi importada mais maquinaria, desta vez francesa.

Em 1857, 1861 e 1865, fez-se representar nas exposições internacioais do Porto, tendo conquistado algumas medalhas, nomeadamente de prata, em 1857. Isto mostra que a fábrica viveu, logo de início, um perído de grande expansão e afirmação no tecido industrial nortenho. Tanto que, já em 1878, Manuel Pereira da Silva (agora barão do Calvário) e um novo sócio, António José da Costa, transformaram a companhia numa sociedade anónima, começando logo a emitir títulos de acção num valor total de 240 contos de réis (a fábrica fora avaliada em 120 contos, metade desse valor).

Porém, os problemas da localização da fábrica, longe dos grandes centros urbanos, os custos da matéria prima (a lã era toda importada) e a dificuldade de colocação do produto no mercado, faziam com que as margens de lucro fossem, cada vez, menores. Por outro lado, os administradores nem sempre tinham a formação adequada para a função que desempenhavam como salienta Maria Filomena Mónica: "No Porto existiam 3 fábricas de lanifícios, as de Lordelo, de Padronelo e de Vale da Piedade, com 238, 130 e 80 operários. A comissão comentou pormenorizadamente o estado destas fábricas. Não eram apenas os problemas levantados pela inadequação dos maquinismos que inquietaram a comissão, mas questões relacionadas com a gestão. A fábrica de Vale de Piedade era dirigida, de longe, por um administrador que nada percebia de lãs; a de Padronelo, por um antigo comerciante de panos, igualmente desconhecedor do ofício, embora a comissão o tivesse achado «dotado de uma inteligência viva e de um grande desejo de aprender» (2).

Assim, tendo em conta este contexto de dificuldades, em 1909, o capital da empresa é reduzido de 240 para 100 contos e é dissolvida a Sociedade Anónima e criada uma Sociedade Limitada, medidas enquadradas num plano de reestruração da empresa.

Cerca de cinco anos depois, em 1914, uma nova redução de capital, agora para apenas 50 contos, foi notariada no Porto, para onde entretanto a sede da empresa havia sido deslocada. Neste acto de redução de capital, destacam-se o nome de dois novos sócios, os irmãos António Nunes Borges e Francisco António Borges, já então banqueiros, mas que viriam a fundar, em 1937, o Banco Borges & Irmão.

Nas décadas de 1910 e 1920 a fábrica assistiu a um crescimento exponencial. O "Almanaque de Amarante", editado pela Tipografia Flôr do Tâmega, em 1917, referia-se-lhe nestes termos: "Há em Padronelo uma importante fábrica de Lanifícios, movida por turbina hidráulica, auxiliada por vapor quando faltam as águas. Os seus productos são actualmente perfeitíssimos, rivalizando em todos os similares. Há mesmo tipos de tecidos de fabricação, quasi exclusiva, e de grande procura nos mercados" (3).

Na segunda metade do século XX, nos anos de 1960 e 1970, ainda laborava no sector têxtil, mas, tendo entrado em declínio, foi dissolvida. Nas suas estruturas foram instaladas, numa primeira fase, uma fábrica de produção de óleos vegetais e, posteriormente, uma fábrica de urnas.

Em 1997, por resolução do Conselho de Ministros nº 165/97 de 29 deSetembro, a fábrica foi inscrita como conjunto sob proposta de estudo e classificação, situação jurídica que, tecnicamente, continua a ser a actual.

(1)- Manuel Pereira da Silva, 1.º Barão do Calvário, nasceu em Penafiel a 16 de Junho de 1813. Filho de António Pereira da Silva e de D. Maria Josefa Mendes, emigrou aos 14 anos para a Baía (Brasil) como empregado comercial. Ali fez fortuna, chegando a Diretor da Caixa Comercial da Baía. Após 23 anos de residência no Brasil, regressa a Portugal, fixando-se em Penafiel, onde construíu um palacete e adquiriu grandes propriedades.

Em 1845, casou com D. Rosa Leal da Silva que morreu em Agosto de 1870.

D.Luís concedeu-lhe o título de barão em 1872.

Foi Comendador da Ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa, Presidente da Câmara de Penafiel e provedor da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel.

Em 1855, fundou a fábrica de lanifícios Garcia & Rbeiro, em Padronelo, Amarante, uma referência da indústria de lanifícios no norte do país, no século XIX.

Faleceu a 19 de Dezembro de 1901.

Miguel Moreira



Fotografia de Antero Frederico Ferreira de Seabra da Mota e Silva, em 1860



Photographia de A. T. Carneiro – Amarante. Bilhete postal da década de 1900.



Fontes

- Mário Bruno Pastor, Comunicação no 3.º Congresso Internacional sobre Património Industrial, Universidade Lusíada, Lisboa, Junho de 2016.

(2)- Maria Filomena Mónica, Capitalistas e industriais (1870-1914), Análise Social, vol. XXIII (99), 1987-5.°, 819-863.

(3)- Almanaque de Amarante, 1917, Tipografia Flôr do Tâmega.


sábado, 20 de fevereiro de 2021

Cruzeiro do Mosteiro de Gondar

 

A poucos metros da Igreja Românica de Gondar, o cruzeiro do Mosteiro, de reconhecido valor patrimonial e histórico, data da Idade Moderna (séc. XVII/XVIII). Está associado à Igreja do Mosteiro que foi matriz de Gondar de 1455 a 1904.


Cruzeiro do Mosteiro - Gondar

De construção muito simples, é constituído por um soco de três degraus de planta quadrada e um plinto quadrangular com chanfros oblíquos, no qual assenta uma coluna de fuste liso e de secção octogonal, com capitel cúbico com chanfros. A cruz é latina, lisa e de secção octogonal.

Miguel Moreira

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

7 Razões para visitar Gondar


 A 5 kilómetros de Amarante e a 60 da cidade do Porto, esta pequena aldeia, plasmada nos vales dos rios Ovelha e Carneiro, tem motivos capazes de surpreender quem a visita. Com um passado que remonta aos primórdios da nacionalidade - Mem Gundar, a quem a freguesia deve o seu nome, acompanhou o conde D. Henrique nos tempos do Condado Portucalense - Gondar possui um passado e um património admiráveis: monumentos, aldeias preservadas, quintas e casas senhoriais, artesanato, um museu rural, a “casa do oleiro”, praias fluviais… e muito mais.

De entre muitos, selecionamos 7 motivos que, certamente, não deixarão de fascinar o visitante mais exigente.

1- A IGREJA ROMÂNICA DE GONDAR


Igreja Românica de Gondar - Amarante


Integrada na Rota do Românico, esta Igreja, edificada no século XIII, conserva ainda a traça românica na sua quase totalidade, apesar das transformações que sofreu durante a Época Moderna.

Fez parte de um antigo Mosteiro de monjas bentas, fundado por Dom Mem Gundar que fez desta abadia mariana local de acolhimento das suas filhas e de panteão familiar. Foi Reitoria e Comenda da Ordem de Cristo e, de 1455 até 1904, foi igreja matriz da freguesia.

 2- A IGREJA MATRIZ DE GONDAR


Igreja Matriz de Gondar - Amarante


Inaugurada em 1904, a atual Igreja Matriz, com uma localização mais central, veio substituir a Igreja românica, situada num extremo da paróquia.

De traçado muito simples e de uma só nave, o novo templo ostenta, no seu interior, peças de elevado valor artístico e cultural: um retábulo de estilo barroco (séc. XVII/XVIII) e uma belíssima escultura de Nossa Senhora, de estilo gótico (século XV), ambos  provenientes da secular igreja românica de Gondar.

 3- O MUSEU RURAL DO MARÃO


Museu Rural do Marão em Gondar - Amarante


Inaugurado em 2009, este Museu, nas instalações de um antigo Engenho de Azeite, que aqui funcionava e se mantém em bom estado de conservação, tem patente ao público uma vasta colecção de alfaias agrícolas, utensílios de cozinha, teares, diversas peças de olaria de barro preto e muitos outros utensílios do dia-a-dia da comunidade local.

O visitante poderá ainda visitar, mesmo ao lado, a capela de Nossa Senhora das Dores, integrada numa bonita quinta, propriedade da família de Pascoais.

 4- O LUGAR DE OVELHINHA


Capela de Nossa Senhora do Carmo em Ovelhinha - Gondar


Integrada na Rota das “Aldeias de Portugal”, Ovelhinha é de uma beleza invejável. Com o seu casario ribeirinho, as suas pequenas pontes sobre o rio Carneiro, os açudes e os moinhos de outrora, Ovelhinha é um desafio aos sentidos, um hino à natureza e ao homem que, aqui, tão harmoniosamente convivem.

Mas Ovelhinha não é apenas o casario e o rio. Ovelhinha é também história. História da crueldade dos soldados de Napoleão que velhos pardieiros ainda testemunham. História de um passado senhorial que um solar e sua capela evidenciam. História do trigo de cantos que aqui teve as suas origens.

Ovelhinha tem, ainda, a Senhora do Carmo com seu belíssimo retábulo em talha dourada; e Santa Amaro com sua festa de pendor carnavalesco. E tem uma escola, mas não uma qualquer escola. Tem uma escola linda, centenária, do tipo Adães Bermudes.

Ovelhinha é, por tudo isto, uma aldeia repeleta de encantos e de histórias que vale a pena desvendar. Percorrê-la vagarosamente, descobrir os seus recantos, sentir os seus cheiros, observar o estilo de vida calmo e tranquilo dos seus habitantes é algo que nos enleva os sentidos e nos acalenta a alma.

Não desperdice o convite e venha desfrutar esta dádiva da natureza.

 5- OS LUGARES DO RIO E OUTEIRINHO


Rio e outeirinho - Gondar


Localizados frente a frente e separados apenas pelo rio Carneiro, estes dois lugares, outrora terra de oleiros e agricultores, preservam ainda o seu carácter genuinamente rural.

Percorra a pé os seus caminhos estreitos e sinuosos, observe as suas graciosas construções graníticas, pare sobre a pequena ponte e deixe-se embalar pelo som da água que corre célere por entre os seixos. E, se for no verão, não deixe de se refrescar na praia fluvial da "levada nova" ou, simplesmente, contemplar a natureza que, aqui, se conserva no seu estado mais puro.

 6- OS LAGARES RUPESTRES DE ALDEIA E DO TAPADO


Lagar medieval do Tapado - Gondar


Remontando muito provavelmente à idade média, estes lagares são, porventura, as construções mais antigas da freguesia. Destinados à pisa das uvas, são a evidência de que a cultura da vinha e do vinho remontam aos primórdios desta comunidade que, hoje, produ z dos melhores vinhos da região.

O lagar do Tapado é constituído por dois tanques de pisa que comunicam, respetivamente, com dois pios, localizados a uma cota inferior, para recolha do mosto. De cada lado dos tanques, existe uma outra estrutura, menos profunda, onde se instalava a prensa. À volta do conjunto, vários entalhes na rocha indiciam a montagem de uma estrutura de suporte de uma cobertura ou alpendre. A existência, lado a lado, de dois tanques e duas pias permitia o funcionamento, em simultâneo, de duas pisas, do mesmo ou de diferentes proprietários.

Muito perto, no lugar de Aldeia, existe um outro lagar do mesmo tipo, embora mais pequeno.

 7- A GASTRONOMIA: BOA COMIDA E BONS VINHOS

Gondar afirma-se, hoje, como uma das grandes referências de Amarante na produção de vinho verde.

Localizada num profundo vale, entre as elevações montanhosas de Carvalho de Rei e de Bustelo e com uma excelente exposição solar, Gondar beneficia de um micro-clima que proporciona às uvas excelente maturação e, consequentemente, vinhos de ótima qualidade.

Pode degustar estes vinhos de excelência numa das várias tabernas e restaurantes da freguesia, acompanhando deliciosos petiscos e pratos típicos da região: o cabrito ou o anho assado com arroz no forno, o arroz de cabidela, o cozido à portuguesa, são sugestões que aqui lhe deixamos.

 Como vê, há motivos de sobra para visitar Gondar. Em família ou com amigos, não hesite, faça-se à estrada.

Miguel Moreira