quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Necrópole de Tubirei - Gondar


Quando, em meados do século passado, em Tubirei, numa propriedade do Dr. Álvaro Pereira de Vasconcelos, os trabalhadores, que procediam à remoção de terras para o plantio de uma vinha, se depararam com um conjunto de vasos de cerâmica, logo o seu proprietário se apercebeu do valor da descoberta. Bacharel em direito e possuidor de vasta cultura - não tivesse ele nascido em Pascoaes! - o Dr. Álvaro, da casa do Encontro, continuou as escavações, agora com o cuidado necessário para que as peças fossem resgatadas com o mínimo de estragos possível.
Cerâmica encontrada em Tubirei - Gondar
Depois de catalogado e estudado por peritos em arqueologia, o espólio aí encontrado logo mostrou tratar-se de uma necrópole romana, muito provavelmente do séc. III/IV da nossa era.
Embora sem o recurso a metodologias de escavação científica, que permitiriam obter dados importantes para a investigação, nas escavações foram encontrados 24 peças de cerâmica comum (bilhas, jarros e pratos), 14 mós de moinhos manuais, 74 pregos, 2 fragmentos de sigilata, 1 colar de ferro e castanhas carbonizadas. A maior parte deste material encontra-se depositado no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante.
No local, agora coberto de pinheiros e mato, não se encontram quaisquer vestígios da necrópole ou de qualquer tipo de ocupação humana. Porém, na opinião de Lino Tavares Dias da Universidade do Porto, tratar-se-ia de um antigo castro romanizado. A localização e o relevo do terreno (um pequeno outeiro) coadunam-se com a possível existência de um castro.

Localização e espólio da Necrópole de Tubirei - Gondar

A descoberta de 74 pregos no local pode pressupor a existência de um ritual funerário de inumação, como é prática corrente nos nossos dias. Porém, no período romano, a prática mais corrente era a da incineração e daí o ter-se encontrado, também, um significativo número de vasos cerâmicos que serviriam para depositar as cinzas dos cadáveres depois de cremados. Os outros objetos e frutos encontrados seriam ofertas ao defunto, o que, também, era normal fazer-se.
De qualquer forma, as práticas de inumação e cremação podem coexistir, como seria o caso.
Uma incógnita é o topónimo Tubirei, caso único no país, para o qual não encontro significado. Provavelmente um termo que remonta ao período galaico-romano.
Por outro lado, a descoberta em Paneleiros (Vila Seca), em 1904, de um jarro, um pote, um potinho, um prato e cerâmica comum romana, em depósito no Museu Nacional de Arqueologia, e, em Villa Leça (Vilela) de restos de cerâmica comum, e a passagem, perto do local, de uma via romana que, por Corvachã, se dirigia às minas romanas do Teixo, no Marão, configuram, na opinião de Lino Tavares Dias, a existência de um vicus ou até de uma villa romana, aproveitando as boas condições do solo do vale drenado pelo rio Fornelo.
Considerando a sua importância para a história de Gondar, entendemos que o local, já sinalizado no PDM de Amarante, devia ser delimitado e protegido para evitar possíveis danos e para futuras prospecções, tal como foi feito com os lagares rupestres de Aldeia e do Tapado, também em Gondar.

Miguel Moreira

Bibliografia:

- CARVALHO, Helena Paula Abreu de, O POVOAMENTO ROMANO NA FACHADA OCIDENTAL DO CONVENTUS BRACARENSIS, Universidade do Minho, 2008.

- DIAS, Lino Tavares, TONGOBRIGA, MONOGRAFIA, IPAR, 1997, Lisboa.

- AMARAL, Luís Coutinho, CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DE AMARANTE/GONDAR, Gupo de Amigos da Biblioteca/Museu Municipal de Amarante, 2009, pp. 19 a 21.

- VALDEZ, Joana, Périplo pelo Património de Amarante: Resultados de um projeto de investigação, Actas do II Congresso Histórico de Amarante.

- http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/index.php?sid=sitios&subsid=3321764