quinta-feira, 17 de setembro de 2015

ESPIGUEIROS... E ALPENDRES

Há-os um pouco por toda a freguesia: uns ainda ao serviço; muitos em completo estado de abandono; e outros, deslocados do seu contexto, a embelezar jardins e modernas moradias. Memórias de uma época, não muito distante, em que o cultivo do milho, juntamente com a vinha, era a actividade agrícola dominante. Por esta altura estavam a abarrotar de milho.

Espigueiro (Vilela - Gondar)

O costume de acumular produtos alimentares, convenientemente preparados, vem de muito longe, tendo mesmo precedido a própria agricultura. Com o aparecimento desta, aumenta a produção de bens alimentares que, devido ao carácter sazonal das colheitas, aumentou a necessidade de conservação dos excedentes, que deviam suprir o ano inteiro.
No norte de Portugal, mais húmido que o sul, a produção agrícola era dominada pelo milho, que colhendo-se em espiga requer secagem e armazenamento conveniente. Para esse efeito, as unidades agrícolas integravam instalações adequadas – alpendres, canastros e espigueiros – que se revestiam de uma enorme riqueza de formas. 

Espigueiro (Vilela - Gondar)

Os espigueiros da região de Gondar são predominantemente de tipo retangular, paredes aprumadas, e compõem-se essencialmente de uma câmara estreita e arejada onde se guardam as espigas. Esta estrutura ergue-se sobre uma base, o assento, constituído por várias colunas, dispostas aos pares e encimadas por pedras salientes (as mós) que impedem a subida dos roedores. Sobre as mós erguem-se colunas, normalmente em granito, que sustentam os frechais ou lintéis onde se apoia a armação da cobertura. Entre as colunas inserem-se os painéis de ripado, dispostos ao alto e travados por cintas horizontais ou cruzetas oblíquas.

Espigueiros da Casa do Encontro (Vila Seca - Gondar)

O abandono a que a agricultura tradicional tem sido votada, o desleixo e a falta de sensibilidade para a preservação deste património, fazem com que muitos destes espigueiros estejam em completo estado de degradação. Por outro lado, muitos, devido ao seu valor estético, têm sido transferidos e utilizados no embelezamento de modernas moradias, totalmente desenquadrados do seu contexto rural.

Espigueiro, eira e alpendre da Quinta do Rio (Gondar)

A nossa identidade cultural é constituída, também, por estas pequenas coisas. Seria bom que todos, proprietários e outras entidades, cuidassem da sua preservação.

Miguel Moreira


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