quarta-feira, 23 de setembro de 2015

AQUI NASCEU GONDAR

Poucas são as terras que, como Gondar, podem identificar, com algum rigor, as suas origens e justificar o seu nome. Na verdade, Gondar nasceu e cresceu à volta do seu mosteiro e deve o seu nome ao fundador desse mesmo mosteiro.

Igreja do Mosteiro de Gondar - Amarante

Sim, foi neste pequeno espaço que se vê na imagem que nasceu Gondar, ou melhor, Gundar, nome que conservou até ao século XVI.(1)
Fundado no século XII, por Dom Mem Gundar, o mosteiro beneditino, do qual dependiam também os de Lufrei e Santa Maria Madalena, constituiu-se como núcleo de toda a atividade económica e social da região. E, se inicialmente se constituía como centro de um conjunto patrimonial privado, associado à linhagem dos Gundares e ao controlo de um determinado perímetro geográfico e social (2), paulatinamente a instituição Igreja vai-se apossando dessas estruturas e de todo o aparelho económico e social construído a partir delas. Foi neste contexto que, em 1455, o bispo D. Fernando da Guerra extinguiu o mosteiro e o secularizou. E, assim, nasce a Paróquia de Gondar.
A secularização do mosteiro e da igreja não significou, no entanto, diminuição do seu valor patrimonial ou da sua importância na região. Pelo contrário, o rendimento associado à nova igreja aumentou e Gondar tornou-se Abadia da Apresentação da Mitra e Comenda da Ordem de Cristo. A este fato não foi alheia a oferta, em 1470, pelo seu primeiro pároco, Pedro Afonso, da imagem da Virgem sedente e que se tornou elemento totémico da comunidade.
Em 1882, com a reorganização dos limites das dioceses de Braga e Porto, Gondar transitou do território da primeira para o da segunda, onde permanece.
Em 1903/04, com a construção da nova Igreja Paroquial, Gondar adquire uma nova centralidade que as entidades autárquicas e eclesiásticas souberam aproveitar e têm vindo a valorizar, designadamente com a construção do Centro Paroquial e da sede da Junta de Freguesia.
No entanto, apesar desta nova centralidade, a Igreja do Mosteiro continua a ser o verdadeiro "ex-libris" de Gondar, pois foi, na realidade, o seu berço.

(1) - Gondar ou Gundar? Embora a grafia contemporânea seja a de Gondar, o padre Domingos Moreira regista "Gundar" como topónimo entre os séculos XIII e XVI (MOREIRA, Domingos A., - Fregusias do Diocese do Porto: elementos onomásticos alti-medievais.

(2) - Como refere Mário Barroca: "estamos perante um caso de uma fundação monástica protagonizada por uma família da pequena ou média nobreza que ao novo mosteiro passou a estar estreitamente ligada, porque detinha os direitos patronais, porque a ele confiava algumas das suas filhas que aí professavam, e porque o elegia para panteão familiar, fazendo aí enterrar os seus mortos".

Miguel Moreira (texto)
João Sardoeira (fotografia)

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