A localização, lado
a lado com a estrada pombalina, a dimensão da construção, as portas elevadas do
rés-do-chão para permitir a entrada de cavalos e outros animais de carga, as largas
vistas sobre o vale do rio Carneiro, tudo isto fazia crer tratar-se de uma
estalagem para viajantes que do Alto Douro e Beiras se deslocavam para o
litoral. Faltava-me, porém, um documento que me retirasse as dúvidas.
Estalagem da Boavista (Estrada Pombalina - Gondar) |
Estalagem da Boavista (Estrada Pombalina - Gondar) |
Ora, consegui a tão desejada confirmação: o registo de um óbito ocorrido a 15 de Fevereiro de
1811, precisamente na estalagem da Boavista.
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Óbito ocorrido na Estalagem da Boavista em 15/02/1811 |
“Na Estalagem
de José Ribeiro da Boa-Vista desta freguezia de Santa Maria de Gondar,
faleceo hum passageiro por nome Marcos que dizia ser da freguezia de Serafam da
Comarca de Braga sem Sacramentos, por ter morte emprevista e se dar com elle morto, aos quinze dias
do Mês de Febreiro do Anno de mil e oitocentos e honze, e no mesmo dia de tarde
foi sepultado dentro do Alpendre desta Igreja, e para constar fiz este termo...
O R.or Manuel Guedes de Carvalho.”
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Óbito ocorrido na Estalagem da Cabana em 5/01/1813 |
Melhor, ao pesquisar o registo de óbitos da freguesia de Gondar no século XIX, deparei-me com outro óbito, este ocorrido na Estalagem da Cabana. Existiram, assim, pelo menos duas estalagens em Gondar: uma na Boavista, outra na Cabana. Sobre a da Cabana, diz o documento: “no dia sinco do mês de Janeiro do anno de mil oito sentos e treze, faleceo na estalagem da Cabana desta freguezia hum homem cujo nome e terra se nam sabe, o qual tinha passado para sima na companhia de hum ourives e dava a demonstrar que teria pouco mais ou menos quarenta annos... Foi sepultado no adro desta Igreja de Santa Maria de Gundar...”
Recorde-se, a propósito, que a estrada pombalina que, por Amarante, ligava Mesão Frio ao Porto, foi
mandada construir pela Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro,
sob os auspícios do Marquês de Pombal, e a sua construção terá ocorrido entre
finais do século XVIII e princípios do Século XIX. A sua principal finalidade
era ligar, por estrada, o Douro ao Porto, tornando-se, deste modo, ponto de
passagem para inúmeros viajantes, sobretudo ligados ao comércio dos vinhos do
Douro. As duas estalagens mencionadas, junto à estrada pombalina, acolhiam os
muitos viajantes nas suas demoradas e, muitas vezes, atormentadas viagens.
Miguel Moreira
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