Vindima é
sinónimo de festa e alegria. Não porque o trabalho seja leve, mas porque associado ao vinho que é, em si, fonte de prazer e alegria.
Já na Grécia
antiga, o deus da vinha e do vinho, Dionísio, era um deus alegre e divertido e,
na civilização romana, as “Bacanais”, festas em honra do deus Baco, eram festas
com exagerado consumo de vinho e muitos excessos.
A vindima fazia-se com recurso a familiares, amigos e vizinhos que, por sua vez, contavam com os mesmos, numa calendarização onde não podia haver sobreposições. Porém, hoje em dia, com o plantio de grandes vinhas e a produção mais orientada para a comercialização, a vindima insere-se numa atividade empresarial e a mão de obra passou a ser, essencialmente, assalariada e não por recurso a vizinhos e amigos. Assim, a vindima perdeu, em parte, aquele ambiente de convívio e de festa que, antigamente, possuía.
Vindima - foto de Eduardo Teixeira Pinto |
Há meio século atrás e com a predominânicia da vinha de “enforcado”, a vindima fazia-se com grandes escadas que homens, fortes e musculados, encostavam às árvores e subiam para ir colher as uvas lá nas alturas, como tão bem nos retrata o fotógrafo Eduardo Teixeira Pinto. “Uvas”! gritavam eles para chamar as cesteiras que lhes despejavam as cestas sem terem de descer as escadas. Outros gritavam “olh’ó traseiro” para que o último se despachasse.
O patrão, esse
distribuía cigarros e, com uma abonada “cabaça”, que passava de mão em mão, ia
dando de beber aos trabalhadores. A meio da manhã, surgia a patroa, de açafate
à cabeça, para saciar os vindimadores com uma merenda farta, onde não faltava
o salpicão, o presunto ou o bacalhau frito. Comia-se de pé que não havia tempo
a perder, pois o dia fazia-se curto para o muito que havia a fazer.
Pisa das Uvas - foto de Eduardo Teixeira Pinto |
No final do dia vinha o lagar. Aí, nas cerca de duas horas de pisa, a festa mantinha-se com cantares populares acompanhados, quase sempre, ao toque da concertina ou do realejo.
E, como diz o ditado, “até ao lavar
dos cestos” é vindima.
Nota: as fotografias que apresentamos, mais uma vez, são do exímio fotógrafo amarantino Eduardo Teixeira Pinto que, como poucos, soube retratar o quotidiano das gentes da sua/nossa terra.
Miguel Moreira (texto)
Eduardo Teixeira
Pinto (fotografias)
Vindimadores sobem grandes escadas de madeira para colher as uvas no topo das árvores |
Vindimadores, no cimo das escadas, com as cestas penduradas pelos cambitos |
Mulheres cesteiras aguardam que os vindimadores lhes entreguem as cestas cheias para as despejar em cestos de madeira |
A tarefa de colher as uvas cabia sobretudo aos homens |
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