domingo, 26 de setembro de 2021

A VINDIMA

 

Vindima é sinónimo de festa e alegria. Não porque o trabalho seja leve, mas porque associado ao vinho que é, em si, fonte de prazer e alegria.

Já na Grécia antiga, o deus da vinha e do vinho, Dionísio, era um deus alegre e divertido e, na civilização romana, as “Bacanais”, festas em honra do deus Baco, eram festas com exagerado consumo de vinho e muitos excessos.

A vindima fazia-se com recurso a familiares, amigos e vizinhos que, por sua vez, contavam com os mesmos, numa calendarização onde não podia haver sobreposições. Porém, hoje em dia, com o plantio de grandes vinhas e a produção mais orientada para a comercialização, a vindima insere-se numa atividade empresarial e a mão de obra passou a ser, essencialmente, assalariada e não por recurso a vizinhos e amigos. Assim, a vindima perdeu, em parte, aquele ambiente de convívio e de festa que, antigamente, possuía.

Vindima - foto de Eduardo Teixeira Pinto

Há meio século atrás e com a predominânicia da vinha de “enforcado”, a vindima fazia-se com grandes escadas que homens, fortes e musculados, encostavam às árvores e subiam para ir colher as uvas lá nas alturas, como tão bem nos retrata o fotógrafo Eduardo Teixeira Pinto. “Uvas”! gritavam eles para chamar as cesteiras que lhes despejavam as cestas sem terem de descer as escadas. Outros gritavam “olh’ó traseiro” para que o último se despachasse.

O patrão, esse distribuía cigarros e, com uma abonada “cabaça”, que passava de mão em mão, ia dando de beber aos trabalhadores. A meio da manhã, surgia a patroa, de açafate à cabeça, para saciar os vindimadores com uma merenda farta, onde não faltava o salpicão, o presunto ou o bacalhau frito. Comia-se de pé que não havia tempo a perder, pois o dia fazia-se curto para o muito que havia a fazer.

Pisa das Uvas - foto de Eduardo Teixeira Pinto

No final do dia vinha o lagar. Aí, nas cerca de duas horas de pisa, a festa mantinha-se com cantares populares acompanhados, quase sempre, ao toque da concertina ou do realejo.

E, como diz o ditado, “até ao lavar dos cestos” é vindima. 

Nota: as fotografias que apresentamos, mais uma vez, são do exímio fotógrafo amarantino Eduardo Teixeira Pinto que, como poucos, soube retratar o quotidiano das gentes da sua/nossa terra.

 Miguel Moreira (texto)

Eduardo Teixeira Pinto (fotografias)



Vindimadores sobem grandes escadas de madeira
para colher as uvas no topo das árvores


Vindimadores, no cimo das escadas, com as cestas
penduradas pelos cambitos


Mulheres cesteiras aguardam que os vindimadores 
lhes entreguem as cestas cheias para as despejar
em cestos de madeira


A tarefa de colher as uvas cabia sobretudo aos homens


No final da vindima, homens e crianças, alegremente, 
pisavam as uvas, durante cerca de duas horas, no lagar de pedra.
Na imagem também podemos ver duas prensas que serviam
para espremer o bagaço após a tira do vinho.


Fotografias de Eduardo Teixeira Pinto






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