O PELOURINHO E O CRUZEIRO DE ABOADELA
O surgimento dos pelourinhos está intimamente
associado à criação dos concelhos. À outorga de um foral a uma comunidade local
segue-se, normalmente, o levantamento de um pelourinho, símbolo da sua
personalidade jurídica e da sua independência. Invariavelmente é implantado
numa praça ou num largo central da povoação e em frente ao edifício dos Paços
do Concelho.
A renovação dos forais efetuada por D. Manuel
I é frequentemente associada ao fulgor construtivo de pelourinhos verificado no
século XVI (1). Considerando que, em 1514, D. Manuel concede novo foral a Ovelha do
Marão, e, em 1550, D. João III transformou a Beetria em Honra, a Casa da Câmara
e o pelourinho devem ter sido construídos por essa altura. Também se depreende
que a primeira Câmara de Ovelha terá sido próxima da ponte, onde se encontra o
pelourinho, e não no edifício ao cimo da rua, construído em meados do século
XVIII pelos Morgados de Mateus. Em 1726, Craesbeeck escreveu o seguinte: a
Honra de Ovelha “tem sufficiente caza de câmara, perto da ponte, por onde se
passa o dito rio, dentro do lugar, com sua cadea e pelourinho”. (2)
O pelourinho de Ovelha do Marão levanta-se num
pequeno largo da freguesia, junto à ponte, sobre plataforma de cinco degraus
quadrangulares. A coluna é composta por grossa base circular e fuste cilíndrico
e liso. Este é rematado por capitel constituído por uma peça tronco-cilíndrica,
encimada por ábaco em tabuleiro, formado por três molduras quadradas crescentes.
No topo assenta uma pirâmide de secção quadrangular. (3)
Pelourinho e Cruzeiro de Ovelha do Marão - Aboadela |
Na coluna são visíveis marcas dos furos onde
seriam engatados os ferros de sujeição. O pelourinho, símbolo concelhio e instrumento
penal, era o local onde se aplicavam as penas. Os presos eram amarrados às
argolas e açoutados ou mutilados, consoante a gravidade do delito e os costumes
da época.
Pelo Decreto n.º 23 122, DG, 1.ª série,
n.º 231, de 11 de outubro de 1933, o pelourinho
de Ovelha foi classificado como IIP-Imóvel de Interesse Público.
Adossado
ao parapeito da ponte, na margem esquerda do rio, encontra-se o cruzeiro. É
constituído por um plinto de planta quadrada, com a inscrição “1630 / RMO” na
face frontal, e moldura superior em quato de círculo invertido com encaixe
central para o fuste cilíndrico liso. O capitel é em forma de esfera achatada,
sustentando uma cruz latina lisa, de secção circular.
A data, 1630, inscrita na base do cruzeiro,
poderá ser a data da (re)construção da ponte. E porquê? Porque coincide com o
reinado de D. Filipe III, que governou entre 1621 e 1640, que foi um dos
monarcas que mais contribuiu para a construção de pontes e estradas. A de
Larim, em Gondar, terá sido construída pela mesma altura.
Os cruzeiros, símbolos de jurisdição
paroquial, estavam, muitas vezes, associados às pontes, como era o caso da ponte de S. Gonçalo, em Amarante, que
tinha um cruzeiro a meio. O cruzeiro, nestes casos, simbolizava a protecção aos
viajantes e romeiros e à própria ponte. Refira-se o facto de Amarante ser, na Idade
Moderna, o epicentro de várias vias para diversos centros espirituais
regionais, como São Gonçalo, Santa Senhorinha de Basto, Senhora da Lapa ou
mesmo na ligação aos caminhos de Santiago de Compostela.
(1)- Rosa, António Manuel Amaro, Os
Pelourinhos da Lusitânia, Universidade Aberta, Lisboa, 2014, p. 13.
(2)- Craesbeeck, Francisco Xavier da Serra, Memórias
Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho n ano de 1726, Edições
Carvalhos de Basto, vol. II, p. 311.
Miguel Moreira
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