segunda-feira, 4 de maio de 2020

Pelourinho de Ovelha do Marão

O PELOURINHO E O CRUZEIRO DE ABOADELA


O surgimento dos pelourinhos está intimamente associado à criação dos concelhos. À outorga de um foral a uma comunidade local segue-se, normalmente, o levantamento de um pelourinho, símbolo da sua personalidade jurídica e da sua independência. Invariavelmente é implantado numa praça ou num largo central da povoação e em frente ao edifício dos Paços do Concelho.
A renovação dos forais efetuada por D. Manuel I é frequentemente associada ao fulgor construtivo de pelourinhos verificado no século XVI (1). Considerando que, em 1514, D. Manuel concede novo foral a Ovelha do Marão, e, em 1550, D. João III transformou a Beetria em Honra, a Casa da Câmara e o pelourinho devem ter sido construídos por essa altura. Também se depreende que a primeira Câmara de Ovelha terá sido próxima da ponte, onde se encontra o pelourinho, e não no edifício ao cimo da rua, construído em meados do século XVIII pelos Morgados de Mateus. Em 1726, Craesbeeck escreveu o seguinte: a Honra de Ovelha “tem sufficiente caza de câmara, perto da ponte, por onde se passa o dito rio, dentro do lugar, com sua cadea e pelourinho”. (2)


Pelourinho e Cruzeiro de Ovelha do Marão - Aboadela
O pelourinho de Ovelha do Marão levanta-se num pequeno largo da freguesia, junto à ponte, sobre plataforma de cinco degraus quadrangulares. A coluna é composta por grossa base circular e fuste cilíndrico e liso. Este é rematado por capitel constituído por uma peça tronco-cilíndrica, encimada por ábaco em tabuleiro, formado por três molduras quadradas crescentes. No topo assenta uma pirâmide de secção quadrangular. (3)
Na coluna são visíveis marcas dos furos onde seriam engatados os ferros de sujeição. O pelourinho, símbolo concelhio e instrumento penal, era o local onde se aplicavam as penas. Os presos eram amarrados às argolas e açoutados ou mutilados, consoante a gravidade do delito e os costumes da época.
Pelo Decreto n.º 23 122, DG, 1.ª série, n.º 231, de 11 de outubro de 1933,  o pelourinho de Ovelha foi classificado como IIP-Imóvel de Interesse Público. 

 Adossado ao parapeito da ponte, na margem esquerda do rio, encontra-se o cruzeiro. É constituído por um plinto de planta quadrada, com a inscrição “1630 / RMO” na face frontal, e moldura superior em quato de círculo invertido com encaixe central para o fuste cilíndrico liso. O capitel é em forma de esfera achatada, sustentando uma cruz latina lisa, de secção circular.
A data, 1630, inscrita na base do cruzeiro, poderá ser a data da (re)construção da ponte. E porquê? Porque coincide com o reinado de D. Filipe III, que governou entre 1621 e 1640, que foi um dos monarcas que mais contribuiu para a construção de pontes e estradas. A de Larim, em Gondar, terá sido construída pela mesma altura.
Os cruzeiros, símbolos de jurisdição paroquial, estavam, muitas vezes, associados às pontes, como era o caso da ponte de S. Gonçalo, em Amarante, que tinha um cruzeiro a meio. O cruzeiro, nestes casos, simbolizava a protecção aos viajantes e romeiros e à própria ponte. Refira-se o facto de Amarante ser, na Idade Moderna, o epicentro de várias vias para diversos centros espirituais regionais, como São Gonçalo, Santa Senhorinha de Basto, Senhora da Lapa ou mesmo na ligação aos caminhos de Santiago de Compostela.

(1)- Rosa, António Manuel Amaro, Os Pelourinhos da Lusitânia, Universidade Aberta, Lisboa, 2014, p. 13.
(2)- Craesbeeck, Francisco Xavier da Serra, Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho n ano de 1726, Edições Carvalhos de Basto, vol. II, p. 311.

Miguel Moreira

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