segunda-feira, 23 de março de 2020

Mortos, em Gondar, na II Invasão Francesa


RELAÇÃO DOS MORTOS, EM GONDAR, NA II INVASÃO FRANCESA

Após vários dias de ocupação da cidade de Amarante, onde cometeram as maiores atrocidades, as tropas napoleónicas conseguem transpôr a ponte de S. Gonçalo, a dois de Maio de 1809.
Depois,  a fim de garantir uma possível retirada do exército francês para Espanha através das Beiras, tentam controlar toda a margem esquerda do Tâmega, nomeadamente a estratégica estrada pombalina que, pelo Cavalinho, conduzia a Mesão Frio e à Régua. É neste contexto que as tropas francesas, comandadas pelo sanguinário Loison, conhecido por “Maneta”, aterrorizam as populações, atacando-as, incendiando as suas casas, pilhando os seus haveres e matando todos os que se opunham às pilhagens.
Gondar foi das freguesias mais sacrificadas.
Segundo os registos paroquiais da época, só em Gondar, registam-se 27 óbitos. Os mortos foram tantos que 24 dos defuntos tiveram de ser sepultados nos campos, pois o cemitério (na Igreja Paroquial do Mosteiro) não tinha capacidade para todos. Só nos lugares de Ovelhinha e Real, os mais sacrificados, houve 9 mortos, um terço do total.

Ruínas da II invasão francesa em Ovelhinha - Gondar
Era, à época, Reitor de Santa Maria de Gondar, o padre Manoel Guedes de Carvalho que registou o Termo dos óbitos que passo a transcrever:

“Termo de declaração dos falecidos nesta freguezia de Santa Maria de Gondar pella invasão dos Franceses de dois de Maio do anno de mil oito centos e nove atté sua expulsão.
Aqui se acham sepultados pelos campos e montes da minha freguezia, mortos pellos franceses.

Freguezes desta freguezia

Lugar d’Aldea

Manoel Nunes do Soco, sepultado dentro da Igreja pela piedade de Joaquina Nunes e Manoel Pereira do lugar do Mosteiro.

Mosteiro

Maria Lourenço, viúva, sepultada dentro da Igreja pelos mesmos acima.
Domingos de Freitas, sepultado dentro da Igreja pelos mesmos acima.

Areas

João Teixeira, solteiro, sepultado no campo.
Manoel José, viúvo, da Sahida, sepultado no campo.

Quintam

Manoel de Sousa, solteiro, sepultado no campo.
Manoel José, homem de Izabel Alves, sepultado no campo.

Vilella

José Caetano, homem de Maria Josefa, sepultado no campo.
Manoel Alves, viúvo, sepultado no campo.

Villa Seca

Manoel Carvalho, homem d’Anna Monteiro, sepultado no campo.
Maria Vieira, mulher solteira, sepultada no campo.

Rio

Manoel Ribeiro de Magalhães, viúvo, sepultado no campo.
José Pereira, solteiro, sepultado no campo.
José da Motta, homem de Maria Josefa, sepultado no campo.

Outeirinho

Manoel Luís Leite, solteiro, sepultado no campo.

Corujeiras

José Pereira, solteiro, sepultado no campo.
António Luís Leite, homem de Maria Pereira, sepultado no campo.

Real

Manoel Guedes d’Oliveira, solteiro, sepultado no campo.
Manoel Taveira, solteiro, sepultado no campo.
José Taveira Bastardo, homem de Anna Monteiro, sepultado no campo.
João Pereira, homem d’Anna Pinheiro, sepultado no campo.
Anna teixeira, mulher de Daniel Pereira, sepultada no campo.

Ovelhinha

João Pereira Cardoso, homem d’Anna Cardoso, sepultado no campo.
Pedro Nogueira, homem de Maria Josefa, sepultado no campo.
Francisco Ribeiro, homem d’Anna Pinto, sepultado no campo.
Manoel d’Abreu, homem d’Anna Pereira, sepultado no campo.

Larim

Manoel José e sua mulher Maria Luiza, ambos sepultados no campo.

E para constar dos falecimentos dos meos freguezes (...) fiz este Termo aos vinte e sinco dias do mez de Maio do anno de mil oito centos e nove.

O R.or Manoel Guedes de Carvalho



Uma pesquisa de Miguel Moreira
para “Mem Gundar” e "Sentir Gondar"

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