segunda-feira, 30 de março de 2020

Vale de Fratura do rio Carneiro


O VALE DE FRATURA DO RIO CARNEIRO


Sabia que Gondar se situa numa zona de fratura?
Sim, foi essa a conclusão de um estudo que, tendo em conta as características do vale do rio Carneiro (Fornelo), admite tratar-se de um vale de fratura.
Vejamos as principais conclusões desse estudo:

“Quando procedemos ao levantamento geológico da região de Amarante, um dos primeiros aspectos que chamou a nossa atenção foi a regularidade do talvegue do rio Fornelo, quase retilíneo.

Fratura do rio Fornelo (Carneiro) em Gondar
... Estão no mesmo alinhamento, quase retilíneo, o vale do rio Fornelo (ou Carneiro), o alvéolo de Padronelo, os dois talvegues das linhas de água que têm origem comum à altitude de 200 m (no lugar da Cruz), e que seguem sentidos opostos (uma tributária do rio Tâmega, outra do rio Ovelha), o vale onde serpenteia o ribeiro das Golas e o curso superior deste mesmo ribeiro, o qual se apresenta retilíneo a norte, onde toma o nome de ribeiro de Freixo de Cima.
Este alinhamento faz suspeitar a existência de fratura, tendo havido uma deslocação do bloco ocidental para NW, seguida de leve movimento de báscula.

Por efeito da referida fratura, que tem sensivelmente a direcção NW-SE, e se situa na linha Boavista-Padronelo-Amarante, a região ficou dividida em dois blocos, um oriental, a leste do talvegue do rio Fornelo, do qual faz parte a serra do Marão, e outro ocidental, a oeste do mesmo rio, que abrange a serra da Aboboreira.
Destes dois blocos, o ocidental ter-se-ia deslocado para NW, em ligeiro movimento de báscula, segundo a nossa interpretação da morfologia local. A existência de duas grandes aplanações, a de Corvachã e a de Castelo, a estarem relacionadas com o mesmo período de estabilidade, o que é de supor, mostram hoje um desnível de cerca de 35 m.
... Um outro elemento importante veio confirmar a existência de fratura, ou seja, o filão de quartzo interrompido e deslocado junto ao rio Fornelo, por alturas da povoação de Carneiro. Este filão vem da região de Baião, entra na de Amarante, passa aproximadamente a 400 m a SE do vértica de Touta e interrompe-se bruscamente ao atingir o rio Fornelo. A continuação do filão aparece 750 m a SE da interrupção, no lugar de Vendas. Junto à margem direita da ribeira de Jogal, cujo talvegue, em parte retilíneo, deve ter como causa primeira a fratura que, posteriormente, foi preenchida pelo quartzo, originado o filão de que estamos tratando.
... O vale de fratura, na zona correspondente à quase totalidade do rio Fornelo, apresenta-se retilíneo e enquadrado por vertentes ásperas, o que está de acordo com o estabelecimento de vales desta natureza. A faixa estreita de rocha esmagada ao longo da falha condicionou o escavamento retilíneo do vale até à povoação de Moutas.
A este vale segue-se uma depressão, o alvéolo de Padronelo, certamente originada em relação com zona de maior esmagamento ou fraturação. Notemos que a existência das falhas permitiu infiltrações abundantes que amoleceram a rocha subjacente. Por outro lado, de início, quando a falha voltou a jogar, o prosseguimento do rio Ovelha deve ter encontrado certas dificuldades, dada a interrupção do vale pelo deslocamento já citado de um dos blocos. A confirmar a existência de um nível mais alto das águas, são de citar os pequenos depósitos de argilas, calhaus rolados e sub rolados observados na estrada Amarante-Mesão Frio, por alturas de Palmazões, às altitudes de 160 e 170 m (10 e 20 metros acima do rio).”
Fonte:
FERNANDES, A. Peinador, O Vale de Fractura de Rio Fornelo-Padronelo-Amarante, Separata do “Boletim do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da faculdade de Ciências”, p 139-147, Lisboa, 1960.

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