Pintura Mural na Igreja do Mosteiro
de Santa Maria de Gondar
de Santa Maria de Gondar
Foi Armando de Mattos quem
pela primeira vez divulgou as pinturas de Gondar, apesar do avançado estado de
ruína em que o edifício se encontrava já. Corria o ano de 1953 e este autor
publicou uma série de fotografias realizadas alguns anos antes dessa data.
"Durante muito tempo sujeitas às intempéries, delas nada mais sobreviveu até hoje além da pintura do intradorso do nicho da parede fundeira da abside. Foram aqui identificadas duas campanhas distintas, ambas bastante tardias. A segunda, a seco, foi executada diretamente sobre a primeira sem a presença de qualquer reboco. Segundo os técnicos da empresa Mural da História, a primeira camada corresponde a uma campanha barroca, conforme denunciam os enrolamentos e os motivos vegetalistas com grandes flores. A segunda camada, com uma linguagem mais simples, mostra almofadas envoltas por triplo risco, técnica usada para criar volume. No entanto, em 1953, Armando de Mattos ainda pôde identificar quatro pinturas. Na parede fundeira da capela-mor, ao lado do altar, do lado do Evangelho, São Lucas (a); na parede testeira da nave este autor identificou São Cristóvão, “figura gigantesca”, como convinha, e de elevada qualidade plástica (b), do lado da Epístola; um santo bispo, enquadrado por moldura, “rematada ao alto por vistoso frontão nitidamente renascentista, em cujo tímpano se vê, igualmente pintada, uma desconhecida madona” (c); e, por fim, Santo Antão, acompanhado por legenda que o identifica e cujo valor epigráfico permitiu a Armando de Mattos datar esta pintura de finais do século XV ou de inícios do século XVI (d). Além disso, conseguiu ainda este autor reconhecer alguns vestígios de pintura noutros pontos da nave, em camadas sobrepostas, pelo que considera que estas deveriam ocupar a totalidade das suas paredes (Mattos, 1953). Estas pinturas terão sido concebidas ao longo do século XVI (e)." (1)
Pintura Mural - Igreja Românica de Santa Maria de Gondar |
"Durante muito tempo sujeitas às intempéries, delas nada mais sobreviveu até hoje além da pintura do intradorso do nicho da parede fundeira da abside. Foram aqui identificadas duas campanhas distintas, ambas bastante tardias. A segunda, a seco, foi executada diretamente sobre a primeira sem a presença de qualquer reboco. Segundo os técnicos da empresa Mural da História, a primeira camada corresponde a uma campanha barroca, conforme denunciam os enrolamentos e os motivos vegetalistas com grandes flores. A segunda camada, com uma linguagem mais simples, mostra almofadas envoltas por triplo risco, técnica usada para criar volume. No entanto, em 1953, Armando de Mattos ainda pôde identificar quatro pinturas. Na parede fundeira da capela-mor, ao lado do altar, do lado do Evangelho, São Lucas (a); na parede testeira da nave este autor identificou São Cristóvão, “figura gigantesca”, como convinha, e de elevada qualidade plástica (b), do lado da Epístola; um santo bispo, enquadrado por moldura, “rematada ao alto por vistoso frontão nitidamente renascentista, em cujo tímpano se vê, igualmente pintada, uma desconhecida madona” (c); e, por fim, Santo Antão, acompanhado por legenda que o identifica e cujo valor epigráfico permitiu a Armando de Mattos datar esta pintura de finais do século XV ou de inícios do século XVI (d). Além disso, conseguiu ainda este autor reconhecer alguns vestígios de pintura noutros pontos da nave, em camadas sobrepostas, pelo que considera que estas deveriam ocupar a totalidade das suas paredes (Mattos, 1953). Estas pinturas terão sido concebidas ao longo do século XVI (e)." (1)
Em 1979, António Cardoso aludiu aos frescos
que ainda eram visíveis na capela-mor, do lado do Evangelho. Tratava-se de uma
imagem de São João Evangelista, de desenho firme, em tons escuros. Numa
filactera a legenda João Evangelista. Molduras e zonas ladrilhadas, com cores
comidas pelo tempo, eram ainda visíveis. (2)
"Atualmente, apenas se conserva
pintura mural no arcossólio que enquadrava o altar-mor. No intradorso do arco
foram realizadas duas campanhas de pintura. Uma com folhas de acanto enroladas
e grinaldas de flores, dois motivos característicos, respetivamente, da talha
de “estilo nacional” (c. 1690-1725) e da de estilo joanino (c. 1725-1750).
Como, aqui, estes motivos aparecem conjugados, podem indicar uma obra de
transição do gosto ao modo do “estilo nacional” para o gosto joanino, ou seja,
é possível que esta pintura tenha sido realizada algum tempo depois de 1725. A
intervenção sobreposta é mais tardia e parece ter o objetivo de criar molduras,
cujas formas sugerem a influência de um gosto rococó (gosto que se afirma entre
nós depois do início do reinado de D. José I, em 1750), estimando formas finas
(e não volumosas, como as de André Soares, que tanta influência tiveram no
Minho, e que podemos apreciar na parede que envolve o arco triunfal da
sacristia do Mosteiro do Salvador de Travanca, também no concelho de Amarante)." (3)
(1) – Lúcia Rosas e outros, “Rota do
Românico”, 2014, pág. 299-316.
(2) – António Cardoso, “ A Igreja
Românica de Gondar”, Câmara Municipal de Amarante, 1979, pág. 15.
(3) - Paula Bessa, “Pintura Mural na
Rota do Românico”, edição Rota do Românico, 1.ª edição, 2012, pág.
21.
Notas:
(a) Segundo
o autor, esta composição dataria do século XVI. Pelo facto de surgir
representado com a cabeça de perfil e com auréola, Armando de Mattos (1953: 25)
liga esta obra à oficina de Outeiro Seco (Chaves).
(b) A
ausência do Menino pode, talvez , ser explicada por ter desaparecido parte da
pintura (Mattos, 1953: 25).
(c) A
figura, representando um santo bispo de uma qualquer ordem, surge mitrada e a
segurar nas mãos um báculo e um livro. Poderá ser uma representação de São
Bento ou de São Gonçalo ou, ainda, de Santo Agostinho (Mattos, 1953: 25).
(d) Além do
caráter ingénuo do desenho, o autor valoriza o “interesse etnográfico” desta
representação de Santo Antão por ser aqui “portador do símbolo da sua atitude
de “advogado do vivo”. Como diz o povo, constituído por uma coleira com seu
chocalho, que lhe pende do braço esquerdo” (Mattos, 1953: 26).
(e) Tendo em
conta a má qualidade das fotografias editadas por Armando de Mattos e o facto
de, para cúmulo, deixarem perceber a possibilidade de ter existido uma
sobreposição de camadas, Luís Urbano Afonso (2009: 365-366) considera ser
complicado proceder à filiação das pinturas destruídas dentro da produção de
uma das oficinas que laborou na região, pelo que, na impossibilidade de dá-las
a conhecer através da imagem, também nós optamos por lhes fazer apenas uma
breve referência, isenta de qualquer desenvolvimento mais profundo.
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