A
“VESSADA”
Estamos na época das "vessadas".
Sabe o que é a “vessada”?
Sabe o que é a “vessada”?
O termo, de origem latina
(verso are), significa remexer,
lavrar (a terra). Na época medieval, tanto podia significar a “porção de terra
que poderia manter ou sustentar um vassalo”, como “o serviço que se fazia ao
senhor da terra, ou geira”. Nas Inquirições Reais, o termo encontra-se com
frequência, significando, a maior parte das vezes, uma determinada porção de
terra arável e fértil.
O Dicionário da Língua
Portuguesa define vessada como “terra fértil e regadia” ou, ainda, como “terra
que se lavra num dia, com uma junta de bois, antes da semeadura”. Em Gondar, há
meio século atrás, era este o significado.
Vessada (fotografia de Eduardo Teixeira Pinto) |
Sendo um trabalho
colectivo, exigindo uma ou mais juntas de gado, que a
maioria das casas não possuía, a lavoura, ou vessada, tomava um carácter
especial, quase festivo, em que vizinhos e amigos participavam com o seu
trabalho e o seu gado, sem outra remuneração além da refeição melhorada e da
certeza da reciprocidade.
As vessadas faziam-se na Primavera, pelos
meses de Março e Abril. Uns dias antes,
cortavam-se os fenos, faziam-se as "bordas" e estrumavam-se os campos. Rogavam-se as pessoas e marcava-se o dia.
Fotografia de Eduardo Teixeira Pinto |
No dia marcado, bem cedinho, começavam a
chegar os trabalhadores e, depois do “mata bicho” com broa e aguardente, iniciava-se
a “lavoira”. O lavrador, agarrado ao arado, comandava os trabalhos. Por ser um trabalho mais leve, o gado era
guiado por um “moço” ou mulher. E as pacatas
vaquinhas, uma pelo rego, outra pelo restolho, iam e vinham, puxando o arado de
ferro, aproveitando todas as pausas para remoer a última erva.
Pelo meio dia, chegava a patroa com um açafate
coberto com uma toalha de linho. Era hora da pausa par retemperar energias. Acocorados uns, outros sentados, cada um agarrava com suas mãos calejadas uma
fatia de broa de milho, esperando a sua vez para pegar um pedaço de
toucinho ou de bacalhau e encher o prato de arroz. Entretanto a cabaça do vinho
ia passando de mão em mão.
Merenda comida regressava-se ao trabalho, que
só terminava quando o sol se punha.
Cansados, e depois uma boa malga de caldo, os
trabalhadores regressavam a suas casas. Porém, pouco era o descanso, pois, outras
vessadas tinham de se feitas até que todos os campos da aldeia fossem lavrados
e semeados.
Não era fácil a vida nesse tempo, mas alegria era coisa que não faltava.
Não era fácil a vida nesse tempo, mas alegria era coisa que não faltava.
Miguel
Moreira (texto)
Eduardo Teixeira Pinto (fotografia)
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