MEMÓRIA PAROQUIAL DE LUFREI (1758)
(AMARANTE)Sendo o Mosteiro de monjas bentas de Lufrei um dos três cenóbios fundados por Dom Mem Gundar e um dos dois subordinados à Abadessa do Mosteiro de Gondar, achamos por bem publicar o texto da "Memória Paroquial de Lufrei", importante documento histórico, datado de 1758.
Da leitura da "Memória" permito-me salientar o facto de Fridão ser apenas um lugar da freguesia de Lufrei e, como curiosidade, o lugar da Mota ser meeiro com a freguesia de Santo Estêvão de Vila Chã, "de sorte que os seus moradores com um ano a que dá princípio o S. João pertencem a uma igreja e em outro ano à outra".
Diz o seguinte o referido documento:
"A freguezia de Lufrey fica na
Provincia do Minho, he hua das do concelho de Giestaço em que há Juiz
Ordinário. Pertence pelo secular à Comarca de Guimarães: e pelo eclesiástico he
da Comarca de Villa Real do Arcebispado Primaz. He anexa à comenda de Santa Maria de Gondar da Ordem de Cristo de quem
he actual Comendador o Conde do Redondo.
Há nesta freguezia cento e cincoenta
fogos ou vizinhos: Tem pessoas mayores = quatrocentas e noventa = e menores = cincoenta
e duas.
Está situada em Montes; e nas várias
quebras que este forma se colhe todo o género de pão, linho, vinho, azeite, e
castanha, e se crião boys, vaccas e ovelhas, e produziria também todo a
variedade de frutas se nos moradores houvera a curiosidade de as plantar.
Igreja Românica de Lufrei - Amarante |
Está a igreja em hua baixa cercada de outeiros e junto della, além da Casa do Parocho, só há três moradores, e deste sítio apenas olhando ao poente se descobre o Monte e a Hermida que no seu alto tem, de Santa Cruz, que dá nome ao seu concelho, e no mesmo Monte a Igreja Abbadia de Louredo, e também a Vigariaria de Fregim, que he comenda dos Cavaleiros de Malta, e dista o dito monte e Hermida hua légoa grande.
Compreende esta freguezia = o Lugar
do Assento = o Lugar do Ribeiro = o Lugar de Villa Nova = o Lugar de Moure = o
Lugar de Gatiães = o Lugar de Penim = o Lugar de São Tiago = o Lugar de Frariz
= o Lugar de Fridão = e além destes = o Lugar da Motta com a especialidade de
ser meeyro com a freguezia de Santo Estêvão de Villa Chã: de sorte que os seus
moradores com hum anno a que dá princípio o S. João pertencem a hua igreja e em
outro anno à outra.
Altar Mor e Colaterais da Igreja do Salvador de Lufrei - Amarante |
O Orago desta freguezia he o Salvador, e tem a sua Igreja o Altar Mor e dous colaterais, hu com imagem de Nossa Senhora do Rozario, que tem sua confraria, e o outro com a imagem de São Sebastião.
Não tem naves, só sim duas confrarias
mais, hua do Santíssimo Nome de Deos, e outra dos Fieis de Deos.
O Parocho desta Igreja he Vigário
Collado, cuja prezentação pertence aos Reitores
de Gondar, como Matriz da
Comenda. E como a mayor parte dos seus rendimentos consistem em
incertos, andam estes por cem mil ou mais dez menos dez. Também tem hu
coadjutor annuo pago pelos fructos da Comenda, a quem se dá oito mil e seis
centos só em dinheiro, e vinte alqueires de pão.
Não trem esta freguezia Beneficiados,
Conventos, hospital, nem Caza da Misericórdia. Tem sim quatro Hermidas de que
se administrão os sacramentos aos moradores dos lugares em que se achão. A
primeira he a do Salvador do Mundo em o lugar de Gatiães; a segunda a do
Arcanjo São Miguel em o lugar de Moure; a terceira a de São Faustino em o lugar
de Fridão; e estas três são da Administração do Parocho e fabricadas pelos
fructos da Comenda. A quarta he de Nossa Senhora dos Prazeres, contigua a hua
quinta que os Religiosos de São Gonçalo da Villa de Amarante tem no lugar de
Frariz, a quem a mesma Hermida pertence e eles mesmo tem obrigação da sua
fabrica.
Ermida do Salvador do Mundo - Lufrei |
A sobredita hermida do Salvador do Mundo também em certos dias do
anno acodem algumas romagens: como he em dia da Transfiguração, a 6 de Agosto,
em que esta freguezia vai em clamor a ella, por votto muito antigo. Na primeira
Terça Feira de Junho, também a freguezia da Madalena, vem a ela com seu clamor,
e o mesmo observa também a freguezia
de Gondar no dia de São Barnabé, a onze do mesmo Junho. E em todas as
vezes que há esterilidade, necessidades de sol ou falta de chuvas, acodem todas
as freguezias destes arredores, com os seus clamores, à dita hermida a suplicar
a Deos Nosso Senhor, o que necessitam, e ordinariamente o conseguem.
Não há memória digna de crédito de
que florescessem ou sahissem desta freguezia homens por qualquer respeito
insignes, sendo que algum indício de que algum tempo os houve parece certos
dando três túmulos de pedra inteira, que no adro desta Igreja se conservão,
levantados da terra, com cobertas de pedra também inteira, lavradas em forma
aguda por todo oseu comprimento, os quais se não achão por qualquer outra
destas vizinhanças.
Em dous destes túmulos se devisão alguns religiosos de nome que se lhe abriu ao cizel, mas por que o tempo corrompeu as letras, não se pode já averiguar o que era, nem na memória dos homens há tradição de quem fossem os sujeitos que neles se sepultaram.
Túmulo no adro da Igreja de Lufrei - Amarante |
Em dous destes túmulos se devisão alguns religiosos de nome que se lhe abriu ao cizel, mas por que o tempo corrompeu as letras, não se pode já averiguar o que era, nem na memória dos homens há tradição de quem fossem os sujeitos que neles se sepultaram.
Não há nesta freguezia feira nem
correyo, e se serve pelo de Amarante, que dista hum quarto de legoa. Desta
freguezia a Braga são nove legoas e a Lisboa pouco mais de sessenta e duas.
Não padeceu ruina alguma com o
terramoto, nem tem notabilidade ou couza que mais seja digna de memória.
A esta freguezia divide o Rio Tâmega
pela parte do norte da freguesia de São João de Gatão e da de São Cipriano da
Chapa, que são do concelho de Basto, e nas partes em que o dito rio confronta
com esta minha freguezia tem três açudes, em duas dellas cada sua azenha e na
outra hum moinho. Pertence este e ellas ao Cazal das Chouzas do lugar de
Fridão, a outra ao Cazal do Monte do lugar de Frariz e a última à quinta de
Paschoaes, que he da freguezia de Gatão. E porque em tudo o mais he o dito rio
muito bem conhecido, não o refiro, nem acho de que mais dê informação".
Lufrey hoje 17 de Março de 1758
O Vig.º Joseph Ferreira da Sylva
Um trabalho de Miguel Moreira, a partir do manuscrito original existente na Torre do Tombo.
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