terça-feira, 18 de agosto de 2015

LAGARES RUPESTRES EM GONDAR

Um bom exemplo de preservação do património, este dos lagares rupestres de Aldeia e do Tapado, em Gondar: limpos, devidamente protegidos por uma vedação e com sinalética adequada.
Trata-se de dois lagares localizados muito próximo da igreja do Mosteiro, um em Aldeia e outro no lugar do Tapado. São lagares escavados na rocha, em afloramentos graníticos, destinados à fabricação de vinho. 

Lagar de Aldeia - Gondar
O de Aldeia é constituído por um tanque retangular (em latim “calcatorium”), localizado na parte mais alta da rocha e destinado à pisa das uvas. Este tanque comunica através de um canal com um pio (em latim “lacus”) localizado a uma cota inferior para recolha do mosto. Ao lado do tanque superior existe uma estrutura circular, menos profunda, onde se instalava a prensa (“stipites” em latim). Esta estrutura comunica, através de uma ranhura, com o canal de escoamento para o pio. Estamos, portanto, perante uma técnica de fabrico de vinho de “bica aberta”. À volta do conjunto existem vários entalhes na rocha que se destinavam a estruturas de suporte da cobertura ou alpendre.

Lagar do Tapado - Gondar
O lagar do Tapado, ou da Saída, tinha a mesma função que o de Aldeia, o fabrico de vinho. É do mesmo tipo quanto à sua forma, mas distingue-se do primeiro porque tem tudo em duplicado: dois tanques de pisa, duas pias ou lagaretas de recolha do mosto e duas estruturas de instalação da prensa, uma de cada lado dos tanques de pisa. Estamos, portanto, perante dois lagares contíguos que podiam, por isso, funcionar em simultâneo. Propriedade de um mesmo senhor ou de dois? Uma incógnita.
Em Amarante, existem estruturas deste tipo em Vila Chã e Vila Caiz e são comuns em todo o norte e centro do país.

Entalhe de fixação da prensa (lagar do Tapado)
Uma das grandes questões que se coloca a este tipo de estruturas é o da sua datação. A falta de contextos arqueológicos que possibilite a obtenção de mais informação para o estudo da forma de funcionamento e cronologias destas estruturas rupestres, aliada à escassa informação documental são as principais limitações para a sustentação de propostas cronológicas e funcionais.
Desde logo se destaca o facto de não terem sido identificados quaisquer vestígios arqueológicos datáveis da época romana que pudessem, eventualmente, estar associados a estes lagares. No entanto, a proximidade de uma via romana e a existência de algumas necrópoles romanas na região (Ataúdes, Madalena) são razões para não descartar esta hipótese. Por outro lado, a existência de um mosteiro nas proximidades e do Paço de Mem Gundar que controlavam grande parte da propriedade fundiária da região, podem levar-nos a situar estes equipamentos já na época medieval, ou seja, pelos séculos XII/XIII. Com efeito, só após a reconquista cristã começaram a existir condições para uma agricultura mais estável, condição principal para a dedicação constante que uma vinha exigia. A designação popular de “lagar dos Mouros” não tem grande fundamente, já que é vulgar designar “dos mouros” tudo o que é antigo, obscuro, e de difícil datação.
Em suma, lidamos com uma área parca em documentação e que nos permite mais a colocação de hipóteses do que a afirmação de conclusões definitivas.

Miguel Moreira



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