Fundada, em 1885, pelo brasileiro Manuel Pereira da Silva (1), a Sociedade Garcia Ribeiro & C.ia instalou-se de raiz em Padronelo, Amarante, nas margens do rio Ovelha, cujas águas utilizava como força motriz. Destinada à produção de lanifícios, a fábrica seguiu o modelo de moinho em altura, accionado por uma roda originalmente em madeira.
Fábrica de Lanifícios de Padronelo |
Em 1857, 1861 e 1865, fez-se representar nas exposições
internacioais do Porto, tendo conquistado algumas medalhas, nomeadamente de
prata, em 1857. Isto mostra que a fábrica viveu, logo de início, um perído de grande
expansão e afirmação no tecido industrial nortenho. Tanto que, já em 1878,
Manuel Pereira da Silva (agora barão do Calvário) e um novo sócio, António José
da Costa, transformaram a companhia numa sociedade anónima, começando logo a
emitir títulos de acção num valor total de 240 contos de réis (a fábrica fora
avaliada em 120 contos, metade desse valor).
Porém, os problemas da localização da fábrica, longe dos grandes centros urbanos, os custos da matéria prima (a lã era toda importada) e a dificuldade de colocação do produto no mercado, faziam com que as margens de lucro fossem, cada vez, menores. Por outro lado, os administradores nem sempre tinham a formação adequada para a função que desempenhavam como salienta Maria Filomena Mónica: "No Porto existiam 3 fábricas de lanifícios, as de Lordelo, de Padronelo e de Vale da Piedade, com 238, 130 e 80 operários. A comissão comentou pormenorizadamente o estado destas fábricas. Não eram apenas os problemas levantados pela inadequação dos maquinismos que inquietaram a comissão, mas questões relacionadas com a gestão. A fábrica de Vale de Piedade era dirigida, de longe, por um administrador que nada percebia de lãs; a de Padronelo, por um antigo comerciante de panos, igualmente desconhecedor do ofício, embora a comissão o tivesse achado «dotado de uma inteligência viva e de um grande desejo de aprender» (2).
Assim, tendo em conta este contexto de dificuldades, em 1909, o capital da empresa é reduzido de 240 para 100 contos e é dissolvida a Sociedade Anónima e criada uma Sociedade Limitada, medidas enquadradas num plano de reestruração da empresa.
Cerca de
cinco anos depois, em 1914, uma nova redução de capital, agora para apenas 50
contos, foi notariada no Porto, para onde entretanto a sede da empresa havia
sido deslocada. Neste acto de redução de capital, destacam-se o nome de dois
novos sócios, os irmãos António Nunes Borges e Francisco António Borges, já
então banqueiros, mas que viriam a fundar, em 1937, o Banco Borges & Irmão.
Nas
décadas de 1910 e 1920 a fábrica assistiu a um crescimento exponencial. O "Almanaque de Amarante", editado pela Tipografia Flôr do Tâmega, em 1917, referia-se-lhe nestes termos: "Há em Padronelo uma importante fábrica de Lanifícios, movida por turbina hidráulica, auxiliada por vapor quando faltam as águas. Os seus productos são actualmente perfeitíssimos, rivalizando em todos os similares. Há mesmo tipos de tecidos de fabricação, quasi exclusiva, e de grande procura nos mercados" (3).
Na segunda
metade do século XX, nos anos de 1960 e 1970, ainda laborava no sector têxtil, mas, tendo entrado em declínio,
foi dissolvida. Nas suas estruturas foram instaladas, numa primeira fase, uma
fábrica de produção de óleos vegetais e, posteriormente, uma fábrica de urnas.
Em 1997, por resolução do Conselho de Ministros nº 165/97 de 29 deSetembro, a fábrica foi inscrita como conjunto sob proposta de estudo e classificação, situação jurídica que, tecnicamente, continua a ser a actual.
(1)- Manuel Pereira da Silva, 1.º Barão do Calvário, nasceu em Penafiel a 16 de Junho de 1813. Filho de António Pereira da Silva e de D. Maria Josefa Mendes, emigrou aos 14 anos para a Baía (Brasil) como empregado comercial. Ali fez fortuna, chegando a Diretor da Caixa Comercial da Baía. Após 23 anos de residência no Brasil, regressa a Portugal, fixando-se em Penafiel, onde construíu um palacete e adquiriu grandes propriedades.
Em 1845, casou com D. Rosa Leal da Silva que morreu em Agosto de 1870.
D.Luís
concedeu-lhe o título de barão em 1872.
Foi Comendador
da Ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa, Presidente da Câmara de Penafiel e
provedor da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel.
Em 1855, fundou
a fábrica de lanifícios Garcia & Rbeiro, em Padronelo, Amarante, uma
referência da indústria de lanifícios no norte do país, no século XIX.
Faleceu a 19 de
Dezembro de 1901.
Miguel Moreira
Fotografia de
Antero Frederico Ferreira de Seabra da Mota e Silva, em 1860
Photographia de
A. T. Carneiro – Amarante. Bilhete postal da década de 1900.
Fontes:
- Mário Bruno Pastor, Comunicação no 3.º Congresso Internacional sobre Património Industrial, Universidade Lusíada, Lisboa, Junho de 2016.
(2)- Maria Filomena Mónica, Capitalistas e industriais (1870-1914), Análise Social, vol. XXIII (99), 1987-5.°, 819-863.
(3)- Almanaque de Amarante, 1917, Tipografia Flôr do Tâmega.
10 de outubro de 1907 – Lutuosa: faleceu anteontem repentinamente em Padronelo, Amarante, António José da Costa, cavalheiro de 73 anos, fundador da Companhia de Lanifícios de Padronelo, de que era diretor há 40 anos e a quem se deve o desenvolvimento que aquela importante empresa tomou. Era pai do médico e nosso colega humorista Manuel Monterosso (“A Voz Pública, 12 out.1907, p. 1).
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