quinta-feira, 21 de maio de 2020

Memória Paroquial de Santa Maria de Gondar - Amarante


GONDAR EM 1758


A “Memória Paroquial de Gondar”, descrita pelo P.e António Coelho Pedroza, a 20 de Março de 1758, é, porventura, o mais importante documento para a história de Gondar, no século XVIII.
Transcrevemos alguns excertos desse valioso documento (manuscrito):

“Descriçom desta Freguezia de Sancta Maria de Gundar, feita pelo encomendado della António Coelho Pedroza, natural da Villa de Murça, desta Comarca de Villa Real.

1. He esta Freguezia da Província de Entre Douro e Minho, do Arcebispado de Braga Primaz, da Comarca de Villa Real, do Concelho de Gestaço.
2. Sua Magestade que Deos guarde he senhor della.
4. Está esta Freguezia situada entre montes com distância do Marão duas légoas e tão baixa que della se não descobre povoaçom alguma.
5. He esta Freguezia membro do Concelho de Gestaço.

Lugares
“Os povos de que se compõe o corpo desta Freguezia sam – Mosteiro, Aldea, Larim, Vau, Palmazões, Real, Curjeiras, Outeirinho, Rio, Villa Seca, Valinhas, Villela, Crispellos, Areas, Salida, Quintam”.

População
“Tem esta Freguezia, conforme o rol dos confessados que nella achei, duzentos e vinte fogos, pessoas de sacramento seiscentos e trinta e huma, menores sessenta e oito”.


Igreja do Mosteiro de Gondar - Amarante

Igreja do Mosteiro
“A Igreja desta Parochia esta em huma das bordas da Freguezia em hum dos povos della que lhe chamamos o Mosteyro, cuja dominaçom tomou por ser nos séculos passados de Religiosas Beneditinas, que consta por tradiçom fazer constar de muitos archivos.
Seu orago he de Sancta Maria de Gundar, tem três altares, o mor donde se conserva o Sacrário com o Santíssimo Sacramento, e dois colaterais, o da parte direita do santo Nome de Jezus, e da parte esquerda do Senhor Sam Sebastiam; tem huma Irmandade das Almas.
Nesta Parochia muito antigua há hum campanário com seus sinos de vox muito suave e sonora quando convidam os freguezes à palavra de Deos e a ouvir missa, mas triste e fúnebre quando os chama à sepultura. O mais piqueno conserva ainda hoje o seu timbre porque foi sempre pouco gasto; o maior foi bello contralto, mas hoje por quebrado ficou em tenor desentoado, mas nas festas sempre participa de sua glória quem os repica”.

Capelas
“Tem esta Freguesia sinco capellas, huma da Freguesia que ademenistra o Excelentíssimo Conde de Redondo como Comendador e senhor dos frutos desta comenda, cujo orago hé Santo Amaro, em cujo dia acorrem a sua capella muntos devotos das vizinhanças com suas esmolinhas.
No lugar de Ovelhinha tem huma capella muito moderna feita a expensas do Doutor Manuel Pereira Valente, natural desta Freguesia e assistente na cidade do Porto pella sua grande Literatura …
Tem outra no lugar da Salida com  invocaçom do senhor Santo António que mandou eregir o Padre  Gonçallo Nunes Pereira Valente, vigário de Sam Martinho de Carvalho de Rei.
No lugar de Vilella há duas capellas, huma a mais antiga seu orago Sam João Baptista de que hé adeministradora Brizida Preira veuva e seus filhos o licenciado Manuel Brochado e o padre frei Joam de Sam Joam Baptista religiozo da Observância do Seraphico Sam Francisco na província da Índia. A outra de Sam João Crisóstomo que há poucos annos  mandou eregir o Padre João Pereira Sobrinho”.

Feiras
“Tem esta Freguesia três feiras no anno, aos dezassete de Novembro, de Setembro e Janeiro, que só consta de javalis mansos e algumas cousas comestíveis, e outra do mesmo no dia do senhor Santo Amaro, a quinze de Janeiro, e todas francas”.

Geografia
“Toda esta Freguezia he composta de bosques, penhascos, outeiros, ribanceiras e arvoredos frutíferos, de espinho e silvestres...

Rio / Pesca
"O rio... hé rico em trutas excelentes, algumas de suficiente grandeza, bellos escalos, estupendas bogas e peixinhos...
Não tem pesqueira particular, hé comum todo o anno, e por isso percorrido por vários pescadores de chumbeira, redes de arco, tresmalhas e barredouras".

Moinhos e outros engenhos
“Tem vários moinhos alveiros (trigo) e broeiros (milho), nenhum lagar de azeite, nem pizão, nem nora, nem outro algum engenho...

Estradas
“Por esta freguesia passa uma estrada do nascente ao poente, tão povoada de passageiros pedestres e equestres que com eles se comunicam não só o nosso Reino, mas também toda a Castela Velha e nessa com todas as suas Províncias, Reinos e cidades, mas também a França, a Itália, a Palestina ou Roma”.

Pontes
Tem nesta freguesia uma ponte que chamam de Larim, de cantaria, terá de comprido um tiro de mosquete, tem quatro arcos, da parte superior tem três cortamares com que se defende nas enchentes; na inferior três baluartes...

Data e assinatura do documento

Notas: Os títulos a negrito são acrescentos da minha responsabilidade.
Mantivemos a ortografia do documento.
Miguel Moreira

Sem comentários:

Enviar um comentário