GONDAR E A II INVASÃO FRANCESA (1809)
Ao completarem-se duzentos e dez anos
sobre a vil destruição que as tropas francesas infligiram sobre as populações
de Gondar, nomeadamente de Ovelhinha e Real, achei oportuno publicar um excerto
da obra “ Viagem Sentimental à Província do Minho”, de Frei Tomás de Santa
Teresa, escrita em agosto / setembro de 1809, poucos meses após a ocorrência
dos factos.
“O texto que agora se publica teve a
primeira edição em 1809, ou seja, poucos meses após os acontecimentos a que se
refere. Eram, por isso, ainda muito frescas as cicatrizes deixadas pela
ocupação do exército napoleónico em muitas terras do norte do país. Este relato
é o resultado de uma visita que o autor fez a várias localidades onde pôde
testemunhar a destruição e o sofrimento espalhados por todo o lado. “ (excerto
da Nota Explicativa à reedição fac-similada da obra)
CAPITULO III
Estragos das
Povoações de Santa Maria de Gondar,
Ovelha, Ovelhinha, Gateães, Real e Padornello
Ovelha, Ovelhinha, Gateães, Real e Padornello
“Quando passei pela Freguezia de
Santa Maria de Gondar, que chorava ainda a tyranna morte de trinta e cinco dos
seus Habitantes, occoreo-me a passagem de Virgilio:
... Luctus, ubique pavor, et plurima mortis imago.
Ovelhinha foi toda reduzida a cinzas.
Real foi tratada semelhantemente. Encheria grossos volumes quem pretendesse esmiuçar
os damnos causados à População, e à indústria das citadas Freguezias.
Já próximo da Villa de Amarante eu
notei que se augmentava descompassadamente o pezo dos meus funestos
presentimentos. A certeza dos estragos, que padecêra aquella desditosa, mas fidelissima
Povoação, era mais que de sobejo para os inspirar, e entreter. Notei igualmente
que a imaginação do que eu em breve presenciaria, me causava maior susto, e
pavor, do que todas as desgraças, que até então eu resgistara com os meus
propriosn olhos. Não tardou muito que, justificada esta minha aprehensão, eu
taxasse de pouca força aquelles mesmos presentimentos, que me parecião tão
vivos, e exaggerados. (...)
Vila de Amarante |
Entrando immediatamente no Covello,
que he menos hum Arrabalde, do que huma parte daquella Villa... eu vi...oxalá
que eu podesse agora contar o que vi, e senti nesta occasião!!! Vi consumida
pelo fogo huma rua inteira, que he quasi o total desta Povoação.
Algumas casas, que ficavão para os
lados não forão isentas do fogo. A destruição foi geral. Dos seus malfadados Habitantes, huns se occupavão no desentulho das suas casas, outros lhe cobrião os tectos de colmo, outros mais querião ficar expostos à inclemência dos tempos, do que sujeitarem-se ao risco de serem esmagados por aquellas paredes alluidas, e mal seguras; e todos, em fim, cortarião o coração menos sensível, e menos affeito a chorar os males do seu proximo.” (1)
Nota: O texto é uma transcrição fiel do original, sem qualquer adaptação à grafia atual.
(1)- Frei
Tomás de Santa Teresa, Viagem Sentimental à Província do Minho em Agosto e
Setembro de 1809, edição Fac-similada do Grupo dos Amigos da BMMA, pp. 10, 11 e
12.
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