“ESTRADA POMBALINA” OU “ESTRADA DA COMPANHIA”?
Percorrendo Gondar numa extensão de mais de 5 km, a “estrada da companhia”, vulgarmente designada de “pombalina”, ligando, por Amarante, Mesão Frio ao Porto, foi mandada construir pela Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, criada em 1756. Daí que, em nosso entender, a designação mais apropriada seja "Estrada da Companhia" e não "Estrada Pombalina".
Construções de apoio aos viajantes em Cavalinho - Gondar |
A criação da
Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 1756, por D. José I
sob os auspícios do Marquês de Pombal, cria a 1.ª região vinícola demarcada do
mundo e promove um desenvolvimento sem precedentes da região duriense. Assim,
e já que o escoamento dos seus vinhos se fazia, em grande parte, pelos cais do
Porto e de Gaia, era necessário estabelecer ligações entre a região duriense e
estas cidades. Entre as obras realizadas, destaco as referentes à
navegabilidade do Douro, a construção da estrada entre Mesão Frio e o Porto e a linha ferroviária do Douro que chegou à Régua em 1879.
Estrada da "Companhia" em Padronelo - Amarante |
“E, embora já
existisse uma estrada que interligava a cidade do Porto com Amarante, ela
detinha-se quando deparava com o rio Tâmega. Havia, pois, que prolongar esta
via, interligando Amarante com a Régua, sede da Real Companhia pombalina.
Foi neste
contexto que surgiu o projeto de uma estrada que fazia a interligação da vila
de Mesão Frio e Amarante. Com um traçado extremamente sinuoso, aproveitando
numa fase inicial o vale do rio Teixeira, ascende ao Alto de Quintela, onde
inicia a descida até ao rio Tâmega. Aí, após a construção da ponte (1782-1790)
que substitui a anterior ponte de S. Gonçalo que tinha ruído no ano de 1763,
concretiza-se a tão ansiada ligação com a cidade invicta”.(1)
Estrada da "Companhia" na Reboreda |
A construção
da dita estrada realizou-se sob projecto e direcção do engenheiro francês de pontes e calçadas Joseph Auffdiener e teve um pavimento, revolucionário para a época, criado
pelo engenheiro escocês Mc Adam, vulgarmente designado de “macadame”.
Consistia em várias camadas de brita (pedra) apertadas por um cilindro, o que
permitia a drenagem das águas e um piso enxuto. Com a colocação recente de um tapete betuminoso, o anterior piso desapareceu por completo.
Estrada da Companhia em Carneiro |
Importa ainda referir que para financiar esta e outras obras foi lançado, por alvará de 13 de Dezembro de 1788, um imposto sobre o transporte e venda dos vinhos e aguardentes do Douro, o “imposto das Estradas do Douro”. O mesmo alvará encarregava a Companhia da construção das estradas do Alto Douro. Em 25 de Fevereiro de 1789 foi criada a "Junta e Intendência das Estradas e Caminhos do Douro", começando desde logo a cobrar-se os impostos estabelecidos, assim como a construção das estradas.(2)
Aquando da II Invasão Francesa, o troço entre Mesão Frio e Amarante já estava concluído, tendo havido escaramuças entre as tropas napoleónicas e as milícias portuguesas em Padrões da Teixeira (1808 e 1809) e na Reboreda, Cabanas e Palmazões (1809).
Miguel
Moreira
ANEXO: Texto do professor catedrático da U.P., Prof. Doutor Fernando de Sousa:
"Por alvará de 13 de Dezembro de 1788, a Companhia foi encarregada da construção das estradas do Alto Douro, a fim de beneficiar a agricultura e comércio dos vinhos da região...
A Junta e Intendência das Estradas e Caminhos do Douro foi criada em 25 de Fevereiro de 1789, começando desde logo a cobrar-se os impostos estabelecidos para tal fim, assim como a construção das estradas, sob a direcção do engenheiro francês de pontes e calçadas José Auffdiener; numerosas estradas foram então construídas sob a inspecção da Companhia, como a estrada Porto-Mesão Frio-Régua...".
Sousa, Fernando de, "O Legado da Real Companhia Velha ao Alto Douro e a Portugal (1756-2006), Edições Afrontamento, Porto, 2008, pág. 23.
(1)- Pina,
Maria Helena Mesquita, “A Região Duriense: Alguns Apontamentos sobre a sua Rede
de Transportes (séc.s XVII-XIX), Instituto de Geografia da Faculdade de Letras
da U.P.
(2)- Sousa, Fernando de, "A Real Companhia Velha, 1756-2006", Porto, 2006, pp. 114-119.
(2)- Sousa, Fernando de, "A Real Companhia Velha, 1756-2006", Porto, 2006, pp. 114-119.
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